quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Nossos atrasos de vida


Carlos Moura

O samba "Praça Clóvis" de Paulo Vanzolini – eminente cientista e grande sambista, ou vice-versa – nos ensina: "Na Praça Clóvis minha carteira foi batida/tinha 25 cruzeiros e seu retrato/25 francamente achei barato/prá me livrar do meu atraso de vida". E nós brasileiros em geral temos nossas carteiras batidas todos os dias e sem o menor risco de nos livrarmos dos nossos atrasos de vida.

Nos dias que correm, vemos que dois dos mais relevantes atrasos de vida do Brasil estão trabalhando ativamente para voltarem ao centro do palco. São os srs. José Sarney e Renan Calheiros. Há muitos outros que entram e saem do palco, mas esses dois são emblemáticos, porque representam o que há de mais sujo e atrasado na nossa vida política e na administração pública. O Sarney foi chefe do governo mais desastroso da nossa história, deixou-nos a maior inflação de todos os tempos e praticou politicalhas indescritíveis. E mais, não satisfeito, ainda posou e posa de indignado com seus opositores, porque a PF descobriu uma montanha de dinheiro sem explicação ou origem clara no escritório do genro.

E o Renan? Esse é quase imbatível. Pelo pouco que foi publicado sobre suas atividades políticas e empresariais, ficamos sabendo que quem pagava a pensão da filha era um lobista de grande empreiteira, que tinha a criação de gado mais produtiva do mundo e que usa e abusa de "notas frias" para complementar sua heterodoxa contabilidade.

A lista de conquistas e serviços prestados ao atraso do Brasil por esses dois personagens é extensa, mas ainda pode ser aumentada com a eleição de Sarney para a presidência do Senado e a conquista, via justiça eleitoral, do cargo de governador do Maranhão por sua filha Roseana. Enquanto isso, Renan se prepara para assumir a liderança do PMDB no Senado.

Nem os melhores sistemas de segurança disponíveis impedem esses dois e outros de baterem nossas carteiras. Só nos resta, ter vergonha e lutar com as melhores armas que temos: nossa consciência cívica e nosso voto.

Por essas e outras, a Bolsa Família de R$ 25 do gato Billy, francamente achei barato.



CARLOS MOURA escreve às quartas-feiras na versão impressa do DG.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A azia presidencial e a farra fiscal


Por Carlos Moura

Devo admitir, constrangido é verdade, que a leitura de jornais provoca azia, como bem disse nosso presidente da República. Aliás, os jornais deveriam trazer uma advertência do Ministério da Saúde: "A leitura de jornais é prejudicial à sua saúde".

Digo isso, porque li nos jornais que entre as propostas da CUT para o presidente Lula, está o fim da Lei de Responsabilidade Fiscal. Realmente esse é um pleito importantíssimo para a melhoria das condições dos trabalhadores brasileiros contratados por governos sem qualquer concurso público ou critério, exceto filiação partidária. Para todos os demais brasileiros, ficará a conta da festança, que é sempre aumentada pelo projeto de esvaziamento das agências reguladoras e a distribuição de verbas para organizações ilegais como o MST.

Não satisfeitos com tudo isso, grupos ligados ao partido do sr. presidente querem revitalizar a Telebrás, tradicional sorvedouro de dinheiro dos nossos inúmeros tributos. A proposta para fortalecer a Telebrás baseia-se no ideal de torná-la gestora de uma rede nacional de banda larga, levando assim a internet a todo o país. Considerando a capacidade gerencial do Estado brasileiro em geral e em especial dos quadros dominantes no atual governo federal, voltaremos a assistir o espetáculo deprimente das longas filas para se conseguir uma linha telefônica a custos caríssimos dos tempos da Telebrás ativa como operadora e gestora.

Perdemos os últimos seis anos, antes da crise mundial, crescendo muito pouco, porque ficamos focados no show e não no trabalho. Tivemos inúmeros casos de escandalosos usos do dinheiro público, sempre explicados com desfaçatez e críticas aos descontentes com os acontecimentos.

Não temos tempo e nem dinheiro para ressuscitar dinossauros. Temos urgência em criar um Estado que realmente cumpra seu dever, garantindo a todos os cidadãos acesso aos serviços públicos e não ao crescente show de propaganda estatal sobre obras e serviços que nunca se materializam.

Isso posto, que tal o Ministério da Saúde iniciar uma farta distribuição de anti-ácidos para a população?

CARLOS MOURA escreve às quartas-feiras na versão impressa do DG.