quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Quando o mundo descobriu o Brasil

Por Carlos Moura


Tomo a liberdade de adaptar para esta minha crônica o título de um filme, muito bom, sobre a campanha do Brasil na Copa do Mundo de 1958.

Isso aconteceu faz 50 anos e, durante esse tempo, nosso país mudou muito. Saímos do campo para inchar as cidades.

Nossa capital de então – Rio de Janeiro – foi ocupada por um "novo Estado": o crime organizado.

Naquela época, havia esperança e sonhos. Passamos a acreditar em nós.

Em tudo aconteciam novidades. Na boa e velha política, as coisas mudavam para tudo continuar igual.

O PSD (partido do presidente JK) controlava os rincões da pátria, enquanto a UDN (oposição) planejava, nos salões elegantes das capitais, o golpe para tomar o poder.

Em 1964, a UDN conseguiu o golpe, mas pouco tempo depois foi posta de lado pelos militares.

Em São Paulo, a festa pelo campeonato do mundo na Suécia não ocupou a avenida Paulista, onde os bondes ainda circulavam e as pessoas podiam caminhar tranqüilamente. Não havia trombadinhas, etc.

Isso tudo me vem à mente com o fim das Olimpíadas de Pequim.

Infelizmente, ficou provado mais uma vez que as coisas mudam para tudo continuar igual.

Nosso desempenho foi inferior ao esperado ou sonhado, deixando claro que nossos projetos nacionais são sempre voltados para a pirotecnia, e não para resultados efetivos e constantes.

E, como dizem os maldosos, para ganhar "bronze", basta ir às praias do Nordeste em qualquer época do ano.

É verdade que entre os sul-americanos fomos os mais bem colocados, inclusive mais do que Cuba.

Precisamos melhorar nossas participações nas Olimpíadas, ganhando mais medalhas de ouro, mas sem trocar nossa democracia por uma ditadura igual à do país que mais medalhas de ouro ganhou.

Para isso, cuidado nas eleições de outubro é um passo importante.

O Brasil é um pais emocional ou irracional

Por Maurício Moura

"A equipe brasileira liderada por Marta e Cristiane é melhor mas acho que temos chances de ganhar o ouro porque Brasil é um pais emocional" disparou a comentarista americana de futebol feminino da Rede de TV NBC dos Estados Unidos. Realmente ela estava certa, a seleção feminina brasileira jogou melhor mas quem levou a medalha de ouro foram as americanas. Todavia, ficou a pergunta na minha cabeça: o que significa ser um "pais emocional" ?

Se a ilustre comentarista se refere a perder disputas esportivas de alto nível, como o caso das Olimpíadas, mesmo carregando amplo favoritismo como foi o caso de Diego Hypólito na Ginástica, do futebol masculino, do Jadel Gregorio, do volei de praia e da própria equipe de futebol feminino, me permito discordar. Quem acompanhou os Jogos de Pequim pela TV americana percebeu que os Estados Unidos, além de tomar um baile da China no quadro geral de medalhas, ainda amargou uma série de decepções: o atletismo que comeu poeira dos velocistas da Jamaica, sendo inclusive eliminado nas provas de revezamento por deixarem "cair o bastão" tanto no masculino como feminino (esse é um erro bem maior do que o cometido pelo ginasta brasileiro), o softbol que perdeu a final para o Japão que nunca tinha ganho medalha ou mesmo a ginástica feminina que ficou atràs da China e até agora não para de reclamar da idade das chinesas. Essas derrotas significam que os americanos são "emocionais" ?

Agora, se a americana da NBC se refere ao fato da maioria dos brasileiros só lembrar de esportes como o atletismo, judo, ginástica, tawekondo, natação, futebol feminino, boxe e outros de quatro em quatro anos e ainda exigerem medalhas, devo concordar plenamente. O esporte brasileiro ainda carece de investimentos públicos e privados para que possa disputar medalhas com maiores chances em diversas modalidades. Não custa lembrar que o medalhista de ouro, César Cielo, treina nos Estados Unidos desde 2004 e 90% dos atletas de volei de quadra (tanto feminino quanto masculino) jogam na Europa. A vela e hipismo, aonde o Brasil ganha medalhas regularmente, passam longe de serem esportes acessíveis para a população.

Por outro lado, o investimento feito pelos Estados Unidos em esportes olimpicos chega a quase 5% do PIB americano. A China atingiu a marca de quase 10% do PIB em investimentos no esporte, nos últimos 15 anos, incluindo treinamento de atletas, formação de treinadores e construção de infra-estrutura esportiva. Enquanto isso no Brasil não temos nem estatística sobre esse tema.

Nesse sentido, o fim dos Jogos Olímpicos de Pequim nos deixa a certeza que temos de ser realmente muito "emocionais" para esperar que nossos atletas possam disputar medalhas, em igualdade, com forças esportivas como EUA, China, Austrália, Inglaterra e Rússia. Se a turma da NBC realmente conhecesse a realidade do esporte tupiniquim e o grau de expectativa criado em cima dos atletas brasileiros, certamente diria que o Brasil além de "emocional",pode tranquilamente receber o adjetivo de "irracional".


quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A falta que nos faz Dorival Caymmi

Por Carlos Moura

No sábado – 17 de agosto – perdemos Dorival Caymmi. Sem ser repetitivo, é preciso deixar bem claro que ficamos mais pobres e não há política pública que repare essa perda.

Caymmi foi um excelente exemplo de qualidade e eficácia profissionais. Suas composições são extremamente complexas na simplicidade. Econômicas na quantidade de palavras, mas repletas de lirismo e profundidade. Por isso, sempre foram direto ao ponto, sem desperdícios, tornando-se para sempre um modelo a ser seguido por todos nós, brasileiros. Não vejo no horizonte ninguém no Brasil que possa ocupar seu lugar e quem pôde desfrutar de seu trabalho deve se considerar um premiado por Deus. Felizmente, seus filhos querem levar adiante a sua bandeira.

É lamentável para nosso país que Caymmi não seja imitado pela nossa administração pública, que cada vez mais se torna confusa com baixíssima qualidade, eficiência e eficácia. Continuamos a viver o processo de reinvenção da roda. Toda vez que surge algo novo, a primeira atitude é criar uma nova estrutura no serviço público, mais um galho para acomodar correligionários, pouco importam os novos custos diretos e indiretos. As superposições dessas estruturas criam o caos administrativo, e o cidadão fica perdido. Insisto, tente você ler uma lei para saber o que pode ou não fazer. Ao terminar a leitura, terá, certamente, mais dúvidas.

Como estamos em tempos de campanha eleitoral, tomo a liberdade de sugerir aos chefes dos poderes legislativos (federal, estaduais e municipais) que promovam nas casas do povo que comandam encontros para comparar os textos das leis que aprovam com as letras das canções de Caymmi. Feito isso, estabeleçam metas claras (prazos e responsabilidades) para que as toneladas de leis e normas que caem diariamente sobre nossas cabeças, tenham a clareza, a eficiência e a eficácia de Caymmi.

Quem fizer isso primeiro será consagrado e terá seu nome gravado no panteão dos heróis da Pátria.

Se tudo continuar como está, só nos restará ir para Maracangalha, convidando nossos ilustres representantes. E se eles não quiserem ir, nós vamos sós.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Quem tem a razão, pergunta o povo

Por Carlos Moura

Diz o ditado popular: "casa que falta pão, tudo mundo fala e ninguém tem razão". Lembrei-me disso ao ler as notícias sobre as disputas entre o inspetor Geral T. Soninlaw (aquele que mandou rapidinho de volta para Cuba os atletas cubanos que fugiram da delegação no Pan-Americano do Rio) e os militares sobre a Lei da Anistia. É óbvio que é um tema muito delicado e cheio de cargas emocionais. Não tenho respostas definitivas, mas sinto que a Anistia permitiu uma transição tranqüila para a democracia.

O fundamental agora e sempre é lutar não só pela preservação como para a plena consolidação da democracia em nosso país, porque vemos todos os dias sérias ameaças a ela. Basta ler os jornais para entender minha preocupação.

Para quem viveu os anos da ditadura militar, o vital é ter aprendido as lições sobre os extremismos de ambos os lados e fazer de tudo para não repetirmos os erros. Isso inclui tornar pública a real situação dos muitos desaparecidos, para que suas famílias possam seguir suas vidas sem esse drama.

Outro tema, este agradável, é a candidatura do Rio de Janeiro para sede das Olimpíadas de 2016, que serviu de pretexto para mais uma viagem ao exterior de nosso presidente da República, que foi à China para ver como se faz uma Olimpíada. Por enquanto, só temos visto discursos repletos de furor patriótico, como, aliás, é a regra geral para qualquer questão que exija ações dos governos no Brasil. Será que bastará criar a "bolsa olimpíada" e tudo se resolverá? Ou teremos o PAO – Plano de Aceleração das Olimpíadas, com muitos discursos e promessas de investimentos? Enquanto isso, o Rio de Janeiro – candidato a sede dos jogos – já foi tomado por um "governo estrangeiro", que dita todas as regras para funcionamento de grande parte da cidade.

Será que por isso tudo, logo teremos mais um ministério? Afinal, 2010 está chegando e o dízimo dos companheiros é vital, principalmente se as eleições resultarem em alternância no poder.

Mas assim é a democracia e não é simples saber quem tem razão.


quarta-feira, 6 de agosto de 2008

E as vacas gordas, quando chegam?

Por Carlos Moura

Ao longo dos últimos dias fomos exaustivamente informados sobre o fracasso da Rodada DOHA da OMC, que para o Brasil, por haver concentrado suas ações diplomáticas nessas negociações, tem impactos importantes. Saímos desse processo sem acordo multilateral para o comércio e não temos nenhum acordo bilateral substancial. Especialistas afirmam que nossa estratégia comercial fracassou com DOHA. Ao buscar entender o que ocorreu, encontrei a explicação numa declaração do ministro do Exterior: "O Brasil passará a focar resultados". Brilhante! Como brasileiro fico curioso por saber qual o foco da nossa política externa desde janeiro de 2003? Quanto nos custou essa política? Quanto deixamos de ganhar com os tempos de vacas gordas da economia mundial?

Minha esperança repousa no dinamismo do setor privado brasileiro, que deve exigir uma participação efetiva na definição de nossa estratégia comercial e não aceitar ser deixado de lado pela nossa diplomacia e pelos demais órgãos da administração federal, envolvidos com o comércio exterior. Precisamos de regras claras e estruturas ágeis.

Ainda nas vacas gordas, tivemos recentemente mudança no comando da Receita Federal, que vem faz anos batendo recordes de arrecadação. A nova chefe da SRF, em recentes entrevistas, falou em aumentar o número de alíquotas do IR das pessoas físicas, alegando que há clamor da sociedade para isso.

Concordo com a secretária da Receita Federal é preciso mexer no IR das pessoas físicas. Poderia começar por definir melhor o que é renda tributável, principalmente num país que quase nada dá de retorno em educação, saúde e segurança pública. Se a secretária fizer uma análise rápida da qualidade e da quantidade das despesas dedutíveis, poderá perceber que há uma diferença muito pequena entre renda bruta e renda tributável, o que coloca nossas atuais alíquotas efetivas entre as mais altas do mundo. Penso que uma pesquisa com as famílias que têm filhos em idade escolar seria muito útil.

Por isso, continuamos sem aproveitar os tempos de vacas gordas e engordando a distância que nos separa do verdadeiro desenvolvimento.