sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Nada como nadar nas marolinhas


Enquanto a economia mundial surfava em maravilhosas ondas havaianas, o nosso Brasil brincava nas marolinhas, a bordo da prancha dos inolvidáveis discursos repletos de inovadoras figuras de linguagem. E agora que até as marolinhas estão difíceis, nós precisamos entender quanto isso vai nos custar. Perdemos inúmeras oportunidades de transformar o Brasil num país moderno, eficiente e eficaz.

Vejamos através de três exemplos simples, porque continuamos sendo o país das oportunidades perdidas:

1. Gastos com servidores federais já chegam a R$ 133 bilhões. O pacote de reajustes salariais do atual governo federal infla enormemente a folha de pagamento, fazendo com que as despesas com o pessoal superem os encargos da dívida neste ano. Registre-se ainda que esse custo só perde para o dos benefícios da Previdência Social. E nada de melhores serviços públicos!

2. Temos uma greve da Polícia Civil no Estado de São Paulo, com tristes conseqüências para a população. Por isso vale a pena conhecer a opinião do professor Cláudio Beato (UFMG): "A Polícia Civil é muito pouco profissional e não se dedica efetivamente a compreender o fenômeno da criminalidade. É uma polícia bacharelesca, mais preocupada com preceitos legais do que com a solução de problemas. Daí seu caráter eminentemente repressivo."

3. Dona Vanda Pignato, uma velha conhecida dos petistas, é mulher do candidato a presidente de El Salvador – Maurício Funes, que tem apoio ostensivo do comando do PT. Vanda, dirigente da Secretaria de Relações Internacionais do PT, atua como representante do partido na América Central e recebe salário do Itamaraty. Nosso presidente e seus companheiros têm dado total apoio a Funes, incluindo o marqueteiro João Santana e os préstimos amigos e desinteressados do sr. Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência. Segundo a revista "Época", um diplomata salvadorenho informou que autoridades de El Salvador investigam a suspeita de que o PT esteja injetando dinheiro na campanha de Funes, o que é ilegal.

Por essas e por outras, nada como nadar nas marolinhas!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Nossa assustadora pobreza intelectual

Por Carlos Moura

Vivemos dias complicados em nosso Brasil. Nossos representantes nos parlamentos (federal, estaduais e municipais) gastam nossos impostos na busca permanente de soluções para seus problemas pessoais ou de seus correligionários de ocasião.

O debate de idéias é inexistente. Não se vêem discussões sobre os grandes temas que interessam ao país. Predomina a politicagem paroquial.

Além da pobreza material, histórica em nosso país, vemos crescer assustadoramente a pobreza intelectual. Talvez não seja somente um fenômeno nosso. Outros países, inclusive entre os chamados desenvolvidos, vivem a mesma situação.

Essa falta de debate ou polêmica predomina em muitos outros campos da vida social. Por exemplo, na cultura, é uma situação assustadora. Não temos mais informação fundamentada, temos somente guias de programação. Há muitos outros exemplos para nossa tristeza..

Também não temos análises e debates fundamentados. Vemos crescer os resumos e as frases feitas, e mais pobreza intelectual.

O mais triste é o sentimento de que tal situação seja parte de um projeto político autoritário e anacrônico, cujo objetivo final é o controle do Estado por um grupo de pessoas, voltadas não para servir o país, mas para se servir dele.

Vivemos tempos de não-discordância. Não concordar com a orientação oficial significa tudo de ruim, e nunca uma prática normal numa democracia.

Vemos quase todos os dias notícias sobre o aparelhamento de estruturas do serviço público, objetivando levar-nos para a unanimidade de pensamentos e ações. Isso explica as análises de muitos pseudo-intelectuais sobre os resultados das eleições de outubro passado.

Fala-se muito em preconceitos, mas quem teve a oportunidade de participar de assembléias de estudantes nos anos 60 e 70 vai se lembrar de que valia tudo para impedir vozes discordantes.

Havia uma e só uma verdade, o resto não existia e assim deveria ser para sempre.

Logo, como dizia Nelson Rodrigues "toda unanimidade é burra", e o maior perigo é a burrice pró-ativa.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Cheque em Branco" fará o primeiro Negro Presidente dos Estados Unidos

Por Maurício Moura

Saddam continua empregado mas "how about you" ? A frase anterior ilustrava não somente o mais famoso adesivo da campanha de Bill Clinton para presidente em 1992, como seu principal argumento: Os Estados Unidos podem até ter vencido a Guerra do Golfo, mas perderam a batalha no "front" da economia com aumento do desemprego e queda no crescimento econômico. Argumento perfeito para uma conquista democrata da Casa Branca depois de 12 anos de Governo Republicano.

Passados 16 anos, o quadro é pior: a Guerra do Iraque se prolonga em longa e árdua estadia em Bagdá – e nesse caso, mesmo com a morte de Saddam Hussein – Osama Bin Landen continua empregado e empenhado em propagar o terrorismo. A economia americana passa por uma das maiores crises financeiras (senão a maior) de todos os tempos. Somente nesse cenário negro, sem trocadilhos, um "afro-americano" teria alguma chance de chegar a Washington como presidente.

Todavia, não custa lembrar que até a semana do estouro da crise em Wall Street, quando da decisão governamental de intervenção pesada no mercado financeiro, as pesquisas mostravam tímida vantagem de Obama sobre o candidato Republicano John McCain (cerca de 2 pontos percentuais apenas). Quando o Lehman Brothers afundou e o contribuinte médio americano, aquele típico cidadão branco e conservador de Ohio, foi chamado a pagar a conta com um "cheque em branco" de U$S 700 bn (lembre-se que era essa a proposta principal do Tesouro americano para acabar com a crise), acabaram as chances reais de McCain.

E, nessas horas, a matemática da economia fez o eleitor considerar a possibilidade de eleger Obama presidente. Como exemplo, entre 2000 e 2006, período de maior expansão da Era George W. Bush, os Estados Unidos cresceram 18% em termos do PIB (Produto Interno Bruto) mas, no mesmo período, a renda anual do americano médio caiu 1.1% ou cerca de US$ 2.000. Ao mesmo tempo, os 10% mais ricos tiveram um aumento de renda real de 32%, o grupo 1% mais rico gozou de 203% de incremento de rendimentos e os 0.1% americanos mais ricos obtiveram 425% de crescimento de renda real.

Depois de 2006, venho a crise do sub-prime e tudo ficou pior. O problema maior dessa crise americana (e maior desafio do futuro presidente) é que o país perdeu a capacidade de fazer seus trabalhadores médios assalariados gozarem dos benefícios do aumento de produtividade. Os Estados Unidos, berço da classe média, regrediu em termos de distribuição de renda - fato inédito no desenvolvimento do "American Dream". E pior, a classe média ainda foi chamada, como contribuinte, para "cobrir" as perdas financeiras daqueles que tiveram 300% de aumento de renda. Foi demais.

Para os livros da História ficará o fato de que somente quando foi pedido ao povo americano um "cheque em branco" de US$ 700 bn para salvar os bancos de investimento em Wall Street, foi possível eleger um negro presidente dos Estados Unidos.