quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Prá não dizer que não falei de flores


Por Carlos Moura

Estamos sob uma enxurrada de notícias e análises sobre a crise nos EUA. Sempre que algo novo é anunciado, há euforia e no dia seguinte, desconfiança. E assim vamos vivendo de sobe e desce nas cotações nas bolsas de valores e no câmbio.

Alguns, mais preocupados com o show, aproveitam para atirar pedras no que chamam de "cassino", como se isso fosse trazer alguma solução prática e desenhar um novo caminho para os negócios no mundo. O importante é lembrar a definição da revista The Economist do sistema financeiro: o cérebro da economia, que não é infalível

A situação dos governantes ao redor do mundo está ainda mais complexa. Poucos entendem o que está acontecendo e muitos estão mais preocupados em jogar para a torcida e falar asneiras, pensando nas próximas eleições que terão de enfrentar.

É fascinante como em pleno século XXI a comunicação social é usada com total falta de respeito pela inteligência dos cidadãos. Há estudiosos que consideram essas ações parte de um projeto maior para ocupação do poder por certos grupos por prazos indeterminados. No nosso Brasil, temos exemplos diários em todas as esferas governamentais – compreendendo os Três Poderes da República. Tirante as falas pitorescas de altos dignatários, temos nos dias que correm um excesso de oferta de desrespeito aos cidadãos nas campanhas municipais. Pena que tal fertilidade mental não seja usada para a apresentação de propostas factíveis.

O importante é termos um projeto concreto para a manutenção do sistema financeiro com saúde e pujança, porque sem cérebro, é possível até ganhar eleições, mas não será nunca possível financiar projetos de desenvolvimento em qualquer país. Aliás, se o nosso Brasil está em situação de poder enfrentar com menos turbulências a atual crise, é porque adotamos algumas políticas econômicas consistentes: controle da inflação e liberdade cambial para a entrada e saída de capitais. Nossa fragilidade está nas contas públicas com gastos crescentes.

Talvez, com a chegada da primavera, seja melhor falar das flores...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Recordar é viver: Stanislaw se foi; Febeapá continua

Leio nos jornais sobre o lançamento de um livro sobre Sérgio Porto e Stanislaw Ponte Preta: "De Copacabana a Boca do Mato: O Rio de Janeiro de Sérgio Porto e Stanislaw Ponte Preta", de autoria de Cláudia Mesquita, que desenvolve a tese de que, em vez de pseudônimo, Stanislaw é o heterônimo de Sérgio.

Digo que recordar é viver, porque aprendi a ler e a gostar de Sérgio/Stanislaw com meu avô – Euclydes – voraz leitor e fonte de minhas primeiras incursões no mundo da leitura. Um dos grandes momentos de Stanislaw foi a criação do Febeapá – Festival de Besteiras que Assola o País. Infelizmente para nós, brasileiros, Sérgio nos deixou muito cedo e o Febeapá prosperou e está cada vez mais vigoroso. Não há o menor risco de ser abatido, nem por um ataque do coração.

Nos últimos anos temos visto inúmeros e incontáveis exemplos de besteiras assolando o nosso país. Como sou um simples cidadão, não ouso apregoar nada como nunca antes na História, mas como aprendi nas aulas de Filosofia do colegial com o Prof. Mesquita, "só sei que nada sei". Essa lição é muito útil para começarmos nossas leituras sobre as crises do momento. Uma é a do mercado financeiro dos EUA e a outra é a da Bolívia. Ambas parecem ter raízes em outro momento das minhas leituras na juventude, o realismo fantástico da literatura latino-americana, pois são crônicas da morte anunciada.

No caso dos bancos de investimentos americanos, mesmo parecendo ser simplista, temos um caso clássico de show off, os operadores esticaram os elásticos ao máximo, muita gente ficou feliz e ganhou rios de dinheiro, só que elástico é elástico, ou arrebenta ou volta ao ponto original ao ser esticado. Quem vai pagar a conta? A "viúva" ou as viúvas do meio-oeste dos EUA? E nós aqui em Pindorama? Estamos mesmos blindados? Não sei! Continuamos sem Educação, Saúde, Segurança, Infra-Estrutura e Política Fiscal. Nossos governos só fazem crescer os gastos e usar o patrimônio público para fins políticos e eleitorais.

No caso da Bolívia, temos mais uma crise, fundada na mais nova tentativa de iludir o povo de origem indígena, com fortes doses de pirotecnia populista dos atuais governantes, que pode provocar sérias rupturas, mas que não promoverá melhorias na vida dos bolivianos.

domingo, 14 de setembro de 2008

Será que o avião caiu mesmo no Pentágono?

Por Maurício Moura

Esta semana, completou-se 7 anos da tragédia do 11 de setembro. Washington parou em função das homenagens aos mortos. No Pentágono, foi inaugurado um memorial para os mortos naquela data. Esses tiveram seus nomes eternizados no chão em frente ao local do atentado. Porém, a campanha para a Casa Branca de 2008 parece alimentar a teoria de que o avião não atingiu o Pentágono e tudo foi uma armação da imprensa. Reparem que nunca se teve acesso a uma foto ou imagem sequer do ataque ao Pentágono. Por que ? Como não há imagens de um dos locais mais importantes dos Estados Unidos sendo atingido ? Muito diferente da queda das duas torres em Nova York, onde tudo foi absoluta e magistralmente registrado. Inclusive com imagens ao vivo, como foi o caso do segundo avião.

O mistério parece ter chegado ao final. Pelo teor dos discursos tanto de Barack Obama quanto de John McCain, é possível inferir que os terroristas de Osama Bin Laden atingiram, na verdade, a Casa Branca e o Congresso Americano. E com isso fizeram de Washington uma cidade fantasma.

John McCain, numa tentativa de se disvincular da péssima avaliação do Governo Bush, se auto-intitula o "real maverick" , que significa a pessoa que não segue um padrão, ou seja, se colocando como um republicano divergente de tudo que foi proposto e realizado em Washington durante os 8 anos de governo de seu partido. Não quer assumir para si a responsabilidade do desastre na economia e na política externa. Porém, se esquece que votou, no mesmo período, 90% das vezes a favor das propostas de George W. Bush, inclusive em pontos ligados ao confronto no Iraque, que custaram quase US$ 1 trilhão aos cofres públicos (fora a farsa e o vexame internacional), e ao corte de impostos que focaram nas pessoas com ganhos acima de US$ 250.000 ao ano (deixando quase 80% da população de fora). Duas medidas que elevaram o déficit americano e atolaram o país na crise atual. Mesmo assim, McCain fala que vai "reformar" Washington, e "mudar o jeito da política na capital federal".

"Change" ou mudança é o principal slogan da campanha de Obama, que somente por ser oposição teria naturalmente muito mais legitimidade para pregar a "reforma de Washington". Na campanha, Barack Obama e Joe Biden (vice da chapa) falam que farão de Washington um "lugar novo", de "atitudes e políticas novas". Parecem que irão re-inventar DC. No entanto, o Partido Democrata se esquece que também faz parte de "Washington". Na democracia americana, o Congresso exerce um papel fundamental (diferentemente do Brasil, aqui é impossível governar com as famosas "medidas provisórias" - tudo passa pelo Congresso, principalmente assuntos internos) e lá os democratas são maioria. Joe Biden, por exemplo, é figura constante na capital há pelo menos 30 anos. Democratas, através do voto direto, aprovaram a invasão do Iraque, inclusive com o voto do candidato a vice e da Senadora Hillary Clinton. Sem mencionar a fome democrata por medidas protecionistas que ajudam a isolar os Estados Unidos do resto do mundo, prejudicam o consumidor americano e afetam os países em desenvolvimento, como o Brasil. O acordo bi-lateral de comércio com a Colômbia não saiu por culpa de Obama e seus companheiros.

Portanto, fica a pergunta, se o republicano John McCain é o "real maverick" e o democrata Senador por Illinois vai "change" tudo por aqui, quem habitou Washington desde o 11 de setembro ? Pelo visto a cidade toda, e principalmente a Casa Branca e o Congresso estiveram desertos. Culpa doavião do Bin Laden provavelmente. Afinal, segundo as campanhas, pode-se inferir que a crise na economia e a guerra do Iraque não são de responsabilidade de partido algum. Nessa linha, tudo vai começar do zero com o presidente eleito, seja qual for. E o mesmo poderá se utilizar tranquilamente de um discurso amplamente conhecido pelos brasileiros: "Nunca antes na historia de Washington...".

Pobres americanos.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Sobre generais, rios e história

Por Carlos Moura

Júlio César – o grande general e depois imperador romano – mudou o curso da História ao atravessar o rio Rubicão e desafiar o Senado Romano. Entre os grandes feitos militares de Júlio César destaca-se a conquista da Gália. Porém, há controvérsias, pois há autores afirmando que Júlio César conquistou toda a Gália, menos a aldeia de Astérix e Obelix. Isso graças à poção mágica do druída da aldeia que dava super poderes para quem a tomasse.

Recentemente, outro Júlio César resolveu desafiar os poderosos da República, sugerindo que o chefe do executivo atravessasse o Rio Uruguai e abandonasse seu país. Tudo indica que o alvo do desafio do atual Júlio César não deu ouvidos à sugestão. O ponto comum entre os dois Júlios é a poção mágica que eles e todos os demais cidadãos tem que enfrentar. No caso dos gauleses a poção dava força física, no caso atual produz anti-aderência e um enorme pára-choques, porque nada atinge o Chefe e mais, aumenta sempre seus poderes.

Esses poderes especiais do Chefe estão sendo alardeados pelo país afora para ajudar na eleição de seus companheiros da base aliada. O curioso é que essa base é aliada "pero no mucho", porque há competição entre seus membros não só para ganhar a eleição, mas também para mostrar quem é mais amigo do Chefe.

Como as informações passadas ao estimado público são via uma legislação eleitoral no mínimo pitoresca – maior exemplo é o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão – fica difícil entender quem é quem. O que está claro é a inexistência de oposição ao Chefe. Essa falta de oposição é muito bem estruturada e certamente dará excelentes resultados para ele.

O grande perigo para as repúblicas é a sensação de poder infinito que atinge os chefes, há muitos exemplos na História de generais que abusaram do poder: Alexandre, Napoleão e os caudilhos da América Latina. Assumem que o poder é só deles e ficam perigosos quando contrariados. Há um meio simples para nós, cidadãos, cuidarmos disso: votar com independência. Vamos aproveitar bem o próximo 5 de outubro.

domingo, 7 de setembro de 2008

O que o Dunga e o Lula tem a ver com eleição dos Estados Unidos ?

Por Maurício Moura


Havai e Alaska são aqueles dois estados americanos fora do mapa dos Estados Unidos. Um fica nas distantes ilhas do Pacífico – conhecido por ondas, surfe e mulheres de colares coloridos - e outro fica acima do Canadá. O Alaska, segundo o folclore americano é o lugar aonde moram mais "renas" (aqueles animais que servem o carrinho do Papel Noel) do que habitantes. E nessa eleição,esses lugares tão separados pela geografia, se apresentam muito unidos porquem produziram as principais estrelas do momento: Barack Obama, candidato democrata, e Sarah Palin, candidata a vice-presidente republicana. Jovens, eloquentes e principalmente classifacados pela mídia local como inexperientes.

Barack Obama, advogado, líder comunitário em Chicago e Senador por Illinois com exatos 163 dias de atuação. Tais trabalhos anteriores não representam exatamente um exemplo de carreira que conduz um indivíduo ao cargo mais importante do planeta. Hillary Clinton cansou de pregar que sua bagagem como primeira dama e senadora era muito mais extensa do que a de Obama. John McCain não cansa de lembrar ao povo americano que o candidato democrata pouco fez pelos Estados Unidos (como se ter sofrido torturas durante 5 anos no Vietna qualificasse alguém para virar presidente).

Mas foi o mesmo McCain que surpreendeu o mundo ao anunciar Sarah Palin, Governadora do Alaska, para ser a sua vice-presidente. Lembrando que Jonh McCain, tem 72 anos (será o presidente,se eleito, mais velho de todos tempos), passou por 5 anos de torturas (reparem a dificuldade do mesmo levantar o braço esquerdo) e ainda já sofreu de cancer por 4 vezes, ou seja, existe uma possibilidade real de Sarah virar a chefe da Casa Branca. E como credencial para tal, a mesma já foi jornalista de esportes do Alaska (sensacional !), prefeita de uma cidade de 20 mil habitantes (que certamente tem mais "renas" do que gente) e está há apenas dois anos no governo de um estado cujo orçamento anual é menor do que o de Campinas. Para completar se classifica como "hockey mom" e disse em discurso transmitido em rede nacional que a diferença entre uma "hockey mom" e um pitbull é apenas o batom. Resumindo, passa longe de ser uma figura concretamente preparada para assumir o salão oval. O que significa que no próximo governo americano, o novo será literalmente testado, seja com Obama, seja com Sarah Palin.

Diante disso, escutei aqui em Washington, de um americano "especializado em política brasileira", a seguinte afirmação depois do mesmo ter me ouvido falar da falta de experiencia do candidato democrata e da vice republicana: "Como brasileiro, não deveria estar preocupado com isso. Afinal o Brasil é o país aonde o presidente Lula, antes da eleição de 2002, não tinha praticamente nenhuma experiencia anterior e o Dunga, técnico da seleção (que alguns dizem ser o segundo cargo mais importante da nação), nunca havia sido técnico antes.Sendo assim, por que Obama não pode ser presidente e Sarah Palin não pode ser vice ?".
Se essa comparação tiver um pingo de verdade, sou obrigado a pensar: "God Bless America" ou Deus abençoe os Estados Unidos porque vão precisar e muito. Todavia, imaginem,com Dunga na Casa Branca, os Estados Unidos nao atacariam ninguem.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Convenção Democrata: Um Biquini de Mulher

O famoso brasileiro Roberto Campos disse, certa vez, que "estatística parece biquini de mulher, mostra muita coisa mas esconde o principal". Foi exatamente esse meu sentimento em relação ao show pirotécnico que foi a Convenção do Partido Democrata realizada em Denver, Colorado.

Durante quatro dias seguidos, os Estados Unidos viram desfilar nos palanques do Colorado, estrelas democratas como Ted Kennedy, Michelle Obama (mulher do candidato), Al Gore (candidato derrotado no roubo da contagem de votos da Flórida em 2000), John Kerry (superado por George W.Bush em 2004), Bill Clinton (dispensa apresentação) e até mesmo a principal rival de Obama, a Senadora Hillary Clinton. Todos exaltaram a necessidade de colocar fim aos "anos de sombra" da Era Bush, declararam apoio e pediram voto para o candidato democrata, pregaram união do partido e ainda atacaram diretamente o Republicano John McCain. Para encerrar, Barack Obama discursou para mais de 70.000 pessoas no Estádio do Denver Broncos (time local de futebol americano) evocando a memória de ícones americanos como Franklin Roosevelt, John Kennedy e Martin Luther King Jr. (que há exatos 45 anos atrás fazia o famoso discurso do "I have a dream" – "eu tenho um sonho"). Tudo lindo e maravilhoso para Obama ? Não necessariamente.

O primeiro ponto de atenção é se realmente o partido democrata estará unido para vencer os Republicanos depois de um "sangrento" período de embates entre Barack Obama e Hillary Clinton. E mais, se ex-primeira dama vai conseguir convencer seus eleitores a votarem em Barack Obama. Em Estados decisivos para o sucesso democrata como Pennsilvania, Ohio, Michigan e Flórida, pesquisas mostram que quase 70% dos seguidores de Hillary tendem a votar em John McCain. Também fica a pergunta qual será realmente o comprometimento do grupo dos Clinton nesse processo ? Lembram do caso de José Serra e Geraldo Alckmin, do PSDB, na eleição presidencial de 2006. Ao final do primeiro turno, Serra declarou apoio incondicional a Alckmin mas nada fez para a sua vitória levando o ex-governador ao vexame eleitoral de ter menos votos no segundo turno do que no primeiro. Agora, quem é o maior nome tucano para substituir Lula ? O governador Serra. Voltando aos Estados Unidos, se Obama perder, Hillary se coloca como principal candidata para a Casa Branca.



O segundo é fato de Barack Obama ainda não conseguir traduzir completamente o entusiasmo de seus discursos em propostas realmente concretas para a população americana. Ele fala em "change" (mudança) na saúde mas pouco explica como, "change" na economia mas prega mais protecionismo, "change" na Guerra do Iraque para prender Bin Laden, mas não apresenta uma solução real para o Iraque, "change" na imigração, mas sendo ainda mais duro que os republicanos com os ilegais. Enfim, os detalhamentos básicos dessas propostas passaram longe de Denver.

Nesse sentido, talvez a Convenção Democrata tenha cumprido seu papel: de mostrar muita coisa mas esconder o principal. Só fica a pergunta se "essa muita coisa" será suficiente para levá-los de volta a Washington.Ou se ao longo do restante da campanha, vão precisar "change" um pouco e partirem para o principal: união do partido e propostas concretas.