quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Nunca falta assunto neste nosso Brasil

Por Carlos Moura

Felizmente para nós, cronistas do cotidiano brasileiro, há personagens como o sr. M. A. Garcia, assessor internacional do presidente da República. Ele sempre aperfeiçoa suas manifestações públicas. Não faz muito tempo, por sua conta e risco, afirmou que o Brasil está pronto a dividir com seus "hermanos" os ganhos com o petróleo do pré-sal. Agora, com as dificuldades de crédito e a queda dos preços do petróleo, tanto a Petrobras, o PT e os "hermanos" terão que ficar mais calmos. Ou essa conta da generosidade petista vai ser passada para nós?

Mas há hermanos mais hermanos, essa é a conclusão a que chego ao ler a declaração do sr. Garcia sobre Rafael Correa: "O governo brasileiro tem elementos de convicção de que o Equador pagará sua conta de US$ 243 milhões com o BNDES e que o clima ruim entre os dois países estará melhor antes do dia 15". O sr. Garcia também atuou bastante para solucionar as disputas com a Bolívia, quando esse país expropriou as instalações da Petrobras. Qual foi o prejuízo para o contribuinte brasileiro? Isso nunca foi apresentado com clareza, mesmo sendo a Petrobras empresa de capital aberto. Ainda sobre nossa petroleira, assustam os números do crescimento das despesas com pessoal, principalmente originadas pela enxurrada de companheiros contratados nos últimos anos. Companheiros esses, que fazem generosas doações ao PT.

Mas podemos ficar tranqüilos, porque nosso presidente da República já reagiu aos comentários maldosos da oposição sobre empréstimos feitos pelo Banco do Brasil (também empresa de capital aberto) e pela CEF à Petrobras, além disso, o presidente não aceita que se diga que a Petrobras enfrenta problemas de gestão. Como sempre críticas não são rebatidas com fatos concretos e objetivos, mas com declarações de que se faz terrorismo.

Logo logo, os agentes da tropa de elite do Inspetor Geral T. Soninlaw revelarão para todos nós brasileiros os verdadeiros culpados por tudo isso: calote do Equador, dificuldades na Petrobr e, quem sabe, onde está o gravador usado contra o presidente do Supremo Tribunal Federal.

CARLOS MOURA escreve às quartas-feiras na versão impressa do DG

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Nada como nadar nas marolinhas


Enquanto a economia mundial surfava em maravilhosas ondas havaianas, o nosso Brasil brincava nas marolinhas, a bordo da prancha dos inolvidáveis discursos repletos de inovadoras figuras de linguagem. E agora que até as marolinhas estão difíceis, nós precisamos entender quanto isso vai nos custar. Perdemos inúmeras oportunidades de transformar o Brasil num país moderno, eficiente e eficaz.

Vejamos através de três exemplos simples, porque continuamos sendo o país das oportunidades perdidas:

1. Gastos com servidores federais já chegam a R$ 133 bilhões. O pacote de reajustes salariais do atual governo federal infla enormemente a folha de pagamento, fazendo com que as despesas com o pessoal superem os encargos da dívida neste ano. Registre-se ainda que esse custo só perde para o dos benefícios da Previdência Social. E nada de melhores serviços públicos!

2. Temos uma greve da Polícia Civil no Estado de São Paulo, com tristes conseqüências para a população. Por isso vale a pena conhecer a opinião do professor Cláudio Beato (UFMG): "A Polícia Civil é muito pouco profissional e não se dedica efetivamente a compreender o fenômeno da criminalidade. É uma polícia bacharelesca, mais preocupada com preceitos legais do que com a solução de problemas. Daí seu caráter eminentemente repressivo."

3. Dona Vanda Pignato, uma velha conhecida dos petistas, é mulher do candidato a presidente de El Salvador – Maurício Funes, que tem apoio ostensivo do comando do PT. Vanda, dirigente da Secretaria de Relações Internacionais do PT, atua como representante do partido na América Central e recebe salário do Itamaraty. Nosso presidente e seus companheiros têm dado total apoio a Funes, incluindo o marqueteiro João Santana e os préstimos amigos e desinteressados do sr. Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência. Segundo a revista "Época", um diplomata salvadorenho informou que autoridades de El Salvador investigam a suspeita de que o PT esteja injetando dinheiro na campanha de Funes, o que é ilegal.

Por essas e por outras, nada como nadar nas marolinhas!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Nossa assustadora pobreza intelectual

Por Carlos Moura

Vivemos dias complicados em nosso Brasil. Nossos representantes nos parlamentos (federal, estaduais e municipais) gastam nossos impostos na busca permanente de soluções para seus problemas pessoais ou de seus correligionários de ocasião.

O debate de idéias é inexistente. Não se vêem discussões sobre os grandes temas que interessam ao país. Predomina a politicagem paroquial.

Além da pobreza material, histórica em nosso país, vemos crescer assustadoramente a pobreza intelectual. Talvez não seja somente um fenômeno nosso. Outros países, inclusive entre os chamados desenvolvidos, vivem a mesma situação.

Essa falta de debate ou polêmica predomina em muitos outros campos da vida social. Por exemplo, na cultura, é uma situação assustadora. Não temos mais informação fundamentada, temos somente guias de programação. Há muitos outros exemplos para nossa tristeza..

Também não temos análises e debates fundamentados. Vemos crescer os resumos e as frases feitas, e mais pobreza intelectual.

O mais triste é o sentimento de que tal situação seja parte de um projeto político autoritário e anacrônico, cujo objetivo final é o controle do Estado por um grupo de pessoas, voltadas não para servir o país, mas para se servir dele.

Vivemos tempos de não-discordância. Não concordar com a orientação oficial significa tudo de ruim, e nunca uma prática normal numa democracia.

Vemos quase todos os dias notícias sobre o aparelhamento de estruturas do serviço público, objetivando levar-nos para a unanimidade de pensamentos e ações. Isso explica as análises de muitos pseudo-intelectuais sobre os resultados das eleições de outubro passado.

Fala-se muito em preconceitos, mas quem teve a oportunidade de participar de assembléias de estudantes nos anos 60 e 70 vai se lembrar de que valia tudo para impedir vozes discordantes.

Havia uma e só uma verdade, o resto não existia e assim deveria ser para sempre.

Logo, como dizia Nelson Rodrigues "toda unanimidade é burra", e o maior perigo é a burrice pró-ativa.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Cheque em Branco" fará o primeiro Negro Presidente dos Estados Unidos

Por Maurício Moura

Saddam continua empregado mas "how about you" ? A frase anterior ilustrava não somente o mais famoso adesivo da campanha de Bill Clinton para presidente em 1992, como seu principal argumento: Os Estados Unidos podem até ter vencido a Guerra do Golfo, mas perderam a batalha no "front" da economia com aumento do desemprego e queda no crescimento econômico. Argumento perfeito para uma conquista democrata da Casa Branca depois de 12 anos de Governo Republicano.

Passados 16 anos, o quadro é pior: a Guerra do Iraque se prolonga em longa e árdua estadia em Bagdá – e nesse caso, mesmo com a morte de Saddam Hussein – Osama Bin Landen continua empregado e empenhado em propagar o terrorismo. A economia americana passa por uma das maiores crises financeiras (senão a maior) de todos os tempos. Somente nesse cenário negro, sem trocadilhos, um "afro-americano" teria alguma chance de chegar a Washington como presidente.

Todavia, não custa lembrar que até a semana do estouro da crise em Wall Street, quando da decisão governamental de intervenção pesada no mercado financeiro, as pesquisas mostravam tímida vantagem de Obama sobre o candidato Republicano John McCain (cerca de 2 pontos percentuais apenas). Quando o Lehman Brothers afundou e o contribuinte médio americano, aquele típico cidadão branco e conservador de Ohio, foi chamado a pagar a conta com um "cheque em branco" de U$S 700 bn (lembre-se que era essa a proposta principal do Tesouro americano para acabar com a crise), acabaram as chances reais de McCain.

E, nessas horas, a matemática da economia fez o eleitor considerar a possibilidade de eleger Obama presidente. Como exemplo, entre 2000 e 2006, período de maior expansão da Era George W. Bush, os Estados Unidos cresceram 18% em termos do PIB (Produto Interno Bruto) mas, no mesmo período, a renda anual do americano médio caiu 1.1% ou cerca de US$ 2.000. Ao mesmo tempo, os 10% mais ricos tiveram um aumento de renda real de 32%, o grupo 1% mais rico gozou de 203% de incremento de rendimentos e os 0.1% americanos mais ricos obtiveram 425% de crescimento de renda real.

Depois de 2006, venho a crise do sub-prime e tudo ficou pior. O problema maior dessa crise americana (e maior desafio do futuro presidente) é que o país perdeu a capacidade de fazer seus trabalhadores médios assalariados gozarem dos benefícios do aumento de produtividade. Os Estados Unidos, berço da classe média, regrediu em termos de distribuição de renda - fato inédito no desenvolvimento do "American Dream". E pior, a classe média ainda foi chamada, como contribuinte, para "cobrir" as perdas financeiras daqueles que tiveram 300% de aumento de renda. Foi demais.

Para os livros da História ficará o fato de que somente quando foi pedido ao povo americano um "cheque em branco" de US$ 700 bn para salvar os bancos de investimento em Wall Street, foi possível eleger um negro presidente dos Estados Unidos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

E agora? Para onde vamos

Por Carlos Moura

Acabaram as eleições. Os resultados já foram proclamados. Os prefeitos eleitos têm que formar suas equipes e começar a trabalhar, os vereadores planejar seus projetos para a nova legislatura. Tudo indica que mesmo com o programa "Luz para todos", poucos postes foram eleitos, ou quem sabe, nenhum.

Nossos tempos de cigarra podem estar chegando ao fim e, como muitos comentaristas políticos têm afirmado, no dia 27 passado começou o fim do governo do atual Presidente da República.

Até agora o que temos assistido é um embate entre o canto da cigarra e a realidade. Parece que o mundo real resiste fortemente à vontade política, que em qualquer lugar do mundo, para se tornar fatos concretos, exige muita negociação. Exige que se faça sempre com muito cuidado a lição de casa. Não bastam discursos cheios de frases de efeito e comparações simplórias.

É curioso notar que a ganância e a crença nos bons ventos que sopraram no Brasil nos últimos 6 anos, levaram muitas pessoas a acreditar em promessas de governantes, assumindo riscos excessivos.

Nesses tempos, lembro uma advertência antiga de um conhecido que sempre recomenda: "Não acredite. Só tem malandro".

Precisamos saber logo como o nosso amado Brasil vai conseguir gerir gastos públicos crescentes, falta de investimentos na infra-estrutura e o descolamento do discurso esfuziante com a realidade.

A política do morde e assopra, das declarações desencontradas e do sonho estatizante poderá ter sérias conseqüências para todos. Como limpar o serviço público das nomeações meramente políticas e de acomodação de quadros partidários São dezenas de milhares de pessoas que entraram no trem sem bilhete e que terão de sair. Quem vai tomar e implementar tal decisão? Sabemos que tomar decisão não faz parte do cardápio. O caminho normal é empurrar com a barriga.

É humano sonhar com uma sinecura. O complexo é administrar os sonhadores, controlando suas ações no mundo real. Tudo indica que no horizonte, salvo raras exceções, não se vê lideres para esse processo no Brasil e quiçá no mundo.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Até quando? Exigimos respeito

Enquanto a crise gerada e parida pelo sistema financeiro mundial corre solta, assistimos no Brasil a uma greve dos bancários. Não tenho a menor intenção de discutir a validade ou não da greve e, muito menos, o direito dos bancários de lutar por seus interesses. O que me irrita é o desamparo de nós cidadãos comuns. Isso porque, os bancos no Brasil têm uma função incomum, qual seja, são as coletorias ou cobradores de quase tudo. Se queremos pagar nossa conta de luz, temos que pagar nos bancos, o mesmo é válido para tributos. Enfim, temos que pagar quase tudo nos bancos.

Se as agências fecham ou funcionam parcialmente, as pessoas comuns têm problemas, porque se não conseguem pagar no dia do vencimento, serão cobradas com juros e multas. Alguns podem dizer que se pode pagar pela Internet, nos caixas automáticos e nas casas lotéricas. Mas no final, quem arrecada são os bancos, que são remunerados por esse serviço. Nós todos, velada ou abertamente, pagamos um pouco mais caro por isso.

Esse privilégio dos bancos, que pode ser muito confortável para os cidadãos, precisa ter uma contra-partida garantida e controlada por lei, ou seja, todos os serviços de cobrança têm que estar sempre disponíveis nos horários comerciais. Caso contrário, o cidadão fica desprotegido e prejudicado. Afinal, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco.

Outro privilégio dos bancos no Brasil é a concessão de empréstimos. Somente eles podem emprestar dinheiro ao público. Por que isso? Suponha que tenhamos um capital e decidamos montar um negócio para emprestar dinheiro. Registre-se que iríamos emprestar o nosso dinheiro, não faríamos nenhuma captação de recursos do público. Não podemos. Qual o benefício para o público desse privilégio? Para mim, não vejo nenhum. Admito que não sei se haveria muitos investidores para essa atividade, mas entendo que ela deva estar disponível.

Que tal aproveitarmos este momento de revisão do papel do mercado financeiro e colocar esses privilégios em discussão pública? Com a palavra as chamadas autoridades competentes e nossos representantes no Congresso Nacional.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Coordenação ou Correlação ? As duas crises de Bush

O grande filme da chegada do Outono nos Estados Unidos tem tudo para ser "W" , dirigido pelo famoso Oliver Stone ( Diretor dos controversos Platoon, Nascido em 4 de Julho e JFK). O filme conta a vida do Presidente George W. Bush, e tem particular foco sobre os bastidores da Casa Branca em meio ao 11 de Setembro e Guerra do Iraque. Certamente daqui 100 anos, historiadores vão contar que o Governo Bush passou por dois momentos delicados: o 11 de setembro em 2001 e a crise do mercado financeiro em 2008.



A primeira reação do presidente americano foi no melhor estilo "anos de chumbo" da Ditadura Brasileira, com a sensacional abordagem patriota "Brasil - ame-o ou deixei-o". No mesmo estilo, Bush promoveu o ataque ao Iraque sem negociar ou escutar nenhuma liderança mundial.Os Estados Unidos, naquela oportunidade, adotoram o discurso "ou estamos juntos ou estamos em lados opostos". Não houve nenhuma coordenação. O resultado foi a desastrada invasão cujos resultados negativos para a humanidade se estendem até hoje.



Na crise financeira mundial, a atitude foi diferente. O governo yankee se reuniu e ouviu Chefes de Estados e Ministros de Finanças de diversas partes do planeta. Na real, não somente ouviu mas também copiou a solução do velho mundo. A compra de participação nos bancos foi incialmente uma idéia do Primeiro Ministro da Inglaterra, Gordon Brown. E o que pareceu para muitos um projeto de coordenação global contra crise foi, na verdade, uma edição macro de uma anedota da "sabedoria popular" que diz "quem não cola não sai da escola". Houve o que os economistas chamam de "correlação" que significa, na prática, ver o que os outros estão fazendo e fazer igual.



Menos mal considerando as atitudes e o estilo de governo da "Era Bush". Não custa lembrar que a proposta inicial do Secretário do Tesouro, Henry Paulson, era ter "um cheque branco" de US$ 700 bi para comprar ativos podres do sistema financeiro – o mesmo que dizer "manda o dinheiro que vou gastar como achar melhor – ou estamos do mesmo lado ou o mundo vai quebrar". E o mesmo (Secretário Paulson) foi absolutamente inconsistente em todos os seus discursos sobre a crise financeira – começou dizendo ser contra comprar ação de banco e acabou afirmando que tal era a alternativa mais racional.



Solução ideal essa de comprar participação nos bancos ? Talvez não, porque não se sabe o que é pior para o contribuinte, ter o governo como sócio de banco ou administrando banco. Todavia, o importante é que o resultado final desse caminho adotado pelos governos europeus e americano certamente será melhor do que qualquer atitude "isolada" ou "heróica" da Casa Branca como ocorreu na Guerra do Iraque.



No filme, Oliver Stone mostra que George W. Bush se enganou em quase todas as suas análises sobre política externa e economia. Garantiu para o mundo que havia armas químicas em Bagdá, afirmou em Maio de 2003 que no Iraque os Estados Unidos tinham a "Missão Cumprida", previu a prisão de Osama Bin Laden antes do final do seu mandato e por fim ainda afirmou que a crise do sub-prime era um fato isolado e não iria atingir a economia real. Essa semana, em outro discurso em rede nacional , Mr. Bush previu que "os efeitos da crise serão longos e duros". Confesso que considerando o histórico de acertos do mesmo, essa afirmação serviu até como luz no fim do tunel.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Nossos momentos inesquecíveis

Por Carlos Moura

A cena do nosso capitão Bellini levantando a taça da Copa do Mundo de 1958 é certamente um momento inesquecível para todos nós, brasileiros.

Nos dias atuais, tivemos dois outros momentos que poderão ser inesquecíveis no futuro. Um é a alegria do Nosso Guia ao receber o prêmio Dom Quixote por seu inestimável trabalho para a difusão da língua espanhola. Nas cenas mostradas pela televisão, pudemos sentir que ele se segurou para não repetir o gesto de Bellini e levantar o troféu para o alto. Foi muito emocionante e calou fundo em nossos corações. Alguns companheiros estão tristes porque até agora o Nosso Guia não recebeu nenhum troféu por tudo que ele tem feito pelo Português, principalmente nos seus discursos de improviso.

O outro momento foi a alegria do ministro da Fazenda, quando George W Bush sentou-se a seu lado na reunião do G 20, em Washington. Para um militante clássico como ele, foi uma consagração, afinal foi demonstração pública dos nossos méritos. Pena que Bush esteja no fim do mandato e com a menor popularidade da história dos EUA.

Isso tudo é muito positivo e vai ajudar o Brasil a superar os problemas gerados pela crise global. É fácil de entender, porque ao longo dos últimos seis anos, quando a economia mundial cresceu fortemente, aproveitamos a boa maré e fizemos todas as reformas de que precisávamos. Hoje temos infra-estrutura de transportes no estado da arte; temos um sistema tributário voltado para incentivar os investimentos e promover o desenvolvimento; temos um sistema previdenciário caminhando a passos largos para o equilíbrio e garantindo o futuro tranqüilo de seus beneficiários atuais e futuros. E não podemos esquecer da saúde pública e da segurança em geral, que garante a paz para os cidadãos e para novos empreendimentos empresariais. Temos ainda as punições severas a todos os servidores públicos e empresários que se envolveram com corrupção.

É triste que nem todos acreditem nessas verdades, querendo ações concretas, mas a vida é assim mesmo. Sempre há os ingratos. Para eles, as batatas, mesmo não sendo vencedores.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

1988 A Constituição inacabada...

Por Carlos Moura

Sem dúvida viver no Brasil não é nada monótono, pois nossas constituições são publicações periódicas.

Estamos comemorando os 20 anos da Constituição de 1988, a chamada “cidadã”. Para mim, um simples brasileiro de 58 anos, é motivo de festa, afinal essa é a 3ª constituição de minha vida, que sinceramente espero supere a marca da 2ª (1967-1988). Meu pai, que nasceu 25 anos antes de mim, foi mais feliz, viveu sob seis constituições e viu um recorde: uma constituição que durou 3 anos (1934-1937). Sem dúvida viver no Brasil não é nada monótono, pois nossas constituições são publicações periódicas.

Há muitas controvérsias sobre a qualidade da “cidadã”. Nos últimos dias fomos brindados com inúmeros artigos sobre o tema. Eu acho um monstrengo.

E até agora tenho dúvidas sobre suas vantagens. Destaco 2 pontos importantes que geram tais dúvidas. O primeiro é sobre a nossa representatividade nos parlamentos. São pouquíssimos os cidadãos que sabem como funciona e como se calcula o quociente eleitoral, que define quem é eleito ou não, independentemente dos votos recebidos. Outro é permitir que os governos financiem as entidades sindicais, porque tais recursos públicos garantem controle do Estado nos sindicatos, impedindo a livre representação.

Além disso, vemos quase todos os dias ações contra normas, alegando inconstitucionalidade. Se há tantas dúvidas, deve haver enorme falta de clareza no texto constitucional, que somada à incompetência de nossos legisladores, leva-nos a viver sob fortes emoções.

Mas graças ao bom Deus, temos um chefe do Executivo atento a tudo e que nos ensina: “defendo as reformas política e tributária (não falou da previdência), mas digo que não são urgentes e que o país é perfeitamente governável com a Carta atual”. Pronto, está quase tudo resolvido. Só faltou explicar qual seu entendimento sobre governar. Parece que significa não descer do caminhão de som e fazer discursos.

Nem tudo está perdido, temos a reforma ortográfica, garantindo a todos que falam Português a felicidade de poderem se comunicar livremente e para nós brasileiros, resta torcer para que a “cidadã” proteja o nosso doce de coco da reforma ortográfica.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

“Sorria, você está sendo gravado”


Por Carlos Moura

Em novembro de 1955 o Marechal Lott liderou movimento para garantir a posse de JK, eleito presidente em outubro daquele ano. O lema de Lott foi "garantir o retorno ao estado constitucional vigente". É certo que os perdedores de 1955, conseguiram acabar com o estado constitucional vigente em 1964.

Infelizmente não temos mais tipos como Lott e, para nossa tristeza e atraso, temos tipos como o Insp. Geral T. Soninlaw, que como foi bem definido pela revista VEJA "é daqueles homens públicos que adoram a imprensa – desde que ela lhe seja servil e bajuladora" O pior é que Soninlaw não está só no projeto de amordaçar a imprensa, tem aval do Planalto e, certamente, apoio intelectual da área de comunicação social do Executivo.

Soninlaw comanda a tentativa de aprovar no Congresso um projeto de lei que, usando a justificativa de combater as escutas clandestinas, quer punir com até 4 anos de prisão quem, desafiando o grupo atualmente no poder, cometa o desrespeito de divulgar o conteúdo de grampos, isto é, os jornalistas. Mas, não são todos alvos do Tribunal de Exceção de Soninlaw, somente aqueles não alinhados ou subsidiados. Esses, quando pegos com a mão na botija, são logos perdoados, porque são vítimas ou aloprados. Afinal, eles tem muitos anos de dedicação à causa de construir um Brasil melhor. Não aquele Brasil que, como muito bem definiu o jornalista J. R. Guzzo, "será um país bem mais arrumado quando tomar a decisão de concentrar-se na multiplicação de chances para quem está pior e deixar em paz quem está melhor".

Enquanto isso, na semana passada em Nova Iorque, nosso chefe do Executivo atacou o liberalismo e o ET George W. Bush e, do alto do seu permanente caminhão de som, falou para seus companheiros que o mercado financeiro "precisa ter ética". Infelizmente, o Jefferson local não tem mais condições de dar o mesmo conselho que o nosso Jefferson, em 2005 no auge dos tempos do "mensalão", deu para um alto prócer do partido do governo e atual blogueiro.

Por isso, sorria sempre e aperte os cintos, porque o caminhão segue sem piloto.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Prá não dizer que não falei de flores


Por Carlos Moura

Estamos sob uma enxurrada de notícias e análises sobre a crise nos EUA. Sempre que algo novo é anunciado, há euforia e no dia seguinte, desconfiança. E assim vamos vivendo de sobe e desce nas cotações nas bolsas de valores e no câmbio.

Alguns, mais preocupados com o show, aproveitam para atirar pedras no que chamam de "cassino", como se isso fosse trazer alguma solução prática e desenhar um novo caminho para os negócios no mundo. O importante é lembrar a definição da revista The Economist do sistema financeiro: o cérebro da economia, que não é infalível

A situação dos governantes ao redor do mundo está ainda mais complexa. Poucos entendem o que está acontecendo e muitos estão mais preocupados em jogar para a torcida e falar asneiras, pensando nas próximas eleições que terão de enfrentar.

É fascinante como em pleno século XXI a comunicação social é usada com total falta de respeito pela inteligência dos cidadãos. Há estudiosos que consideram essas ações parte de um projeto maior para ocupação do poder por certos grupos por prazos indeterminados. No nosso Brasil, temos exemplos diários em todas as esferas governamentais – compreendendo os Três Poderes da República. Tirante as falas pitorescas de altos dignatários, temos nos dias que correm um excesso de oferta de desrespeito aos cidadãos nas campanhas municipais. Pena que tal fertilidade mental não seja usada para a apresentação de propostas factíveis.

O importante é termos um projeto concreto para a manutenção do sistema financeiro com saúde e pujança, porque sem cérebro, é possível até ganhar eleições, mas não será nunca possível financiar projetos de desenvolvimento em qualquer país. Aliás, se o nosso Brasil está em situação de poder enfrentar com menos turbulências a atual crise, é porque adotamos algumas políticas econômicas consistentes: controle da inflação e liberdade cambial para a entrada e saída de capitais. Nossa fragilidade está nas contas públicas com gastos crescentes.

Talvez, com a chegada da primavera, seja melhor falar das flores...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Recordar é viver: Stanislaw se foi; Febeapá continua

Leio nos jornais sobre o lançamento de um livro sobre Sérgio Porto e Stanislaw Ponte Preta: "De Copacabana a Boca do Mato: O Rio de Janeiro de Sérgio Porto e Stanislaw Ponte Preta", de autoria de Cláudia Mesquita, que desenvolve a tese de que, em vez de pseudônimo, Stanislaw é o heterônimo de Sérgio.

Digo que recordar é viver, porque aprendi a ler e a gostar de Sérgio/Stanislaw com meu avô – Euclydes – voraz leitor e fonte de minhas primeiras incursões no mundo da leitura. Um dos grandes momentos de Stanislaw foi a criação do Febeapá – Festival de Besteiras que Assola o País. Infelizmente para nós, brasileiros, Sérgio nos deixou muito cedo e o Febeapá prosperou e está cada vez mais vigoroso. Não há o menor risco de ser abatido, nem por um ataque do coração.

Nos últimos anos temos visto inúmeros e incontáveis exemplos de besteiras assolando o nosso país. Como sou um simples cidadão, não ouso apregoar nada como nunca antes na História, mas como aprendi nas aulas de Filosofia do colegial com o Prof. Mesquita, "só sei que nada sei". Essa lição é muito útil para começarmos nossas leituras sobre as crises do momento. Uma é a do mercado financeiro dos EUA e a outra é a da Bolívia. Ambas parecem ter raízes em outro momento das minhas leituras na juventude, o realismo fantástico da literatura latino-americana, pois são crônicas da morte anunciada.

No caso dos bancos de investimentos americanos, mesmo parecendo ser simplista, temos um caso clássico de show off, os operadores esticaram os elásticos ao máximo, muita gente ficou feliz e ganhou rios de dinheiro, só que elástico é elástico, ou arrebenta ou volta ao ponto original ao ser esticado. Quem vai pagar a conta? A "viúva" ou as viúvas do meio-oeste dos EUA? E nós aqui em Pindorama? Estamos mesmos blindados? Não sei! Continuamos sem Educação, Saúde, Segurança, Infra-Estrutura e Política Fiscal. Nossos governos só fazem crescer os gastos e usar o patrimônio público para fins políticos e eleitorais.

No caso da Bolívia, temos mais uma crise, fundada na mais nova tentativa de iludir o povo de origem indígena, com fortes doses de pirotecnia populista dos atuais governantes, que pode provocar sérias rupturas, mas que não promoverá melhorias na vida dos bolivianos.

domingo, 14 de setembro de 2008

Será que o avião caiu mesmo no Pentágono?

Por Maurício Moura

Esta semana, completou-se 7 anos da tragédia do 11 de setembro. Washington parou em função das homenagens aos mortos. No Pentágono, foi inaugurado um memorial para os mortos naquela data. Esses tiveram seus nomes eternizados no chão em frente ao local do atentado. Porém, a campanha para a Casa Branca de 2008 parece alimentar a teoria de que o avião não atingiu o Pentágono e tudo foi uma armação da imprensa. Reparem que nunca se teve acesso a uma foto ou imagem sequer do ataque ao Pentágono. Por que ? Como não há imagens de um dos locais mais importantes dos Estados Unidos sendo atingido ? Muito diferente da queda das duas torres em Nova York, onde tudo foi absoluta e magistralmente registrado. Inclusive com imagens ao vivo, como foi o caso do segundo avião.

O mistério parece ter chegado ao final. Pelo teor dos discursos tanto de Barack Obama quanto de John McCain, é possível inferir que os terroristas de Osama Bin Laden atingiram, na verdade, a Casa Branca e o Congresso Americano. E com isso fizeram de Washington uma cidade fantasma.

John McCain, numa tentativa de se disvincular da péssima avaliação do Governo Bush, se auto-intitula o "real maverick" , que significa a pessoa que não segue um padrão, ou seja, se colocando como um republicano divergente de tudo que foi proposto e realizado em Washington durante os 8 anos de governo de seu partido. Não quer assumir para si a responsabilidade do desastre na economia e na política externa. Porém, se esquece que votou, no mesmo período, 90% das vezes a favor das propostas de George W. Bush, inclusive em pontos ligados ao confronto no Iraque, que custaram quase US$ 1 trilhão aos cofres públicos (fora a farsa e o vexame internacional), e ao corte de impostos que focaram nas pessoas com ganhos acima de US$ 250.000 ao ano (deixando quase 80% da população de fora). Duas medidas que elevaram o déficit americano e atolaram o país na crise atual. Mesmo assim, McCain fala que vai "reformar" Washington, e "mudar o jeito da política na capital federal".

"Change" ou mudança é o principal slogan da campanha de Obama, que somente por ser oposição teria naturalmente muito mais legitimidade para pregar a "reforma de Washington". Na campanha, Barack Obama e Joe Biden (vice da chapa) falam que farão de Washington um "lugar novo", de "atitudes e políticas novas". Parecem que irão re-inventar DC. No entanto, o Partido Democrata se esquece que também faz parte de "Washington". Na democracia americana, o Congresso exerce um papel fundamental (diferentemente do Brasil, aqui é impossível governar com as famosas "medidas provisórias" - tudo passa pelo Congresso, principalmente assuntos internos) e lá os democratas são maioria. Joe Biden, por exemplo, é figura constante na capital há pelo menos 30 anos. Democratas, através do voto direto, aprovaram a invasão do Iraque, inclusive com o voto do candidato a vice e da Senadora Hillary Clinton. Sem mencionar a fome democrata por medidas protecionistas que ajudam a isolar os Estados Unidos do resto do mundo, prejudicam o consumidor americano e afetam os países em desenvolvimento, como o Brasil. O acordo bi-lateral de comércio com a Colômbia não saiu por culpa de Obama e seus companheiros.

Portanto, fica a pergunta, se o republicano John McCain é o "real maverick" e o democrata Senador por Illinois vai "change" tudo por aqui, quem habitou Washington desde o 11 de setembro ? Pelo visto a cidade toda, e principalmente a Casa Branca e o Congresso estiveram desertos. Culpa doavião do Bin Laden provavelmente. Afinal, segundo as campanhas, pode-se inferir que a crise na economia e a guerra do Iraque não são de responsabilidade de partido algum. Nessa linha, tudo vai começar do zero com o presidente eleito, seja qual for. E o mesmo poderá se utilizar tranquilamente de um discurso amplamente conhecido pelos brasileiros: "Nunca antes na historia de Washington...".

Pobres americanos.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Sobre generais, rios e história

Por Carlos Moura

Júlio César – o grande general e depois imperador romano – mudou o curso da História ao atravessar o rio Rubicão e desafiar o Senado Romano. Entre os grandes feitos militares de Júlio César destaca-se a conquista da Gália. Porém, há controvérsias, pois há autores afirmando que Júlio César conquistou toda a Gália, menos a aldeia de Astérix e Obelix. Isso graças à poção mágica do druída da aldeia que dava super poderes para quem a tomasse.

Recentemente, outro Júlio César resolveu desafiar os poderosos da República, sugerindo que o chefe do executivo atravessasse o Rio Uruguai e abandonasse seu país. Tudo indica que o alvo do desafio do atual Júlio César não deu ouvidos à sugestão. O ponto comum entre os dois Júlios é a poção mágica que eles e todos os demais cidadãos tem que enfrentar. No caso dos gauleses a poção dava força física, no caso atual produz anti-aderência e um enorme pára-choques, porque nada atinge o Chefe e mais, aumenta sempre seus poderes.

Esses poderes especiais do Chefe estão sendo alardeados pelo país afora para ajudar na eleição de seus companheiros da base aliada. O curioso é que essa base é aliada "pero no mucho", porque há competição entre seus membros não só para ganhar a eleição, mas também para mostrar quem é mais amigo do Chefe.

Como as informações passadas ao estimado público são via uma legislação eleitoral no mínimo pitoresca – maior exemplo é o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão – fica difícil entender quem é quem. O que está claro é a inexistência de oposição ao Chefe. Essa falta de oposição é muito bem estruturada e certamente dará excelentes resultados para ele.

O grande perigo para as repúblicas é a sensação de poder infinito que atinge os chefes, há muitos exemplos na História de generais que abusaram do poder: Alexandre, Napoleão e os caudilhos da América Latina. Assumem que o poder é só deles e ficam perigosos quando contrariados. Há um meio simples para nós, cidadãos, cuidarmos disso: votar com independência. Vamos aproveitar bem o próximo 5 de outubro.

domingo, 7 de setembro de 2008

O que o Dunga e o Lula tem a ver com eleição dos Estados Unidos ?

Por Maurício Moura


Havai e Alaska são aqueles dois estados americanos fora do mapa dos Estados Unidos. Um fica nas distantes ilhas do Pacífico – conhecido por ondas, surfe e mulheres de colares coloridos - e outro fica acima do Canadá. O Alaska, segundo o folclore americano é o lugar aonde moram mais "renas" (aqueles animais que servem o carrinho do Papel Noel) do que habitantes. E nessa eleição,esses lugares tão separados pela geografia, se apresentam muito unidos porquem produziram as principais estrelas do momento: Barack Obama, candidato democrata, e Sarah Palin, candidata a vice-presidente republicana. Jovens, eloquentes e principalmente classifacados pela mídia local como inexperientes.

Barack Obama, advogado, líder comunitário em Chicago e Senador por Illinois com exatos 163 dias de atuação. Tais trabalhos anteriores não representam exatamente um exemplo de carreira que conduz um indivíduo ao cargo mais importante do planeta. Hillary Clinton cansou de pregar que sua bagagem como primeira dama e senadora era muito mais extensa do que a de Obama. John McCain não cansa de lembrar ao povo americano que o candidato democrata pouco fez pelos Estados Unidos (como se ter sofrido torturas durante 5 anos no Vietna qualificasse alguém para virar presidente).

Mas foi o mesmo McCain que surpreendeu o mundo ao anunciar Sarah Palin, Governadora do Alaska, para ser a sua vice-presidente. Lembrando que Jonh McCain, tem 72 anos (será o presidente,se eleito, mais velho de todos tempos), passou por 5 anos de torturas (reparem a dificuldade do mesmo levantar o braço esquerdo) e ainda já sofreu de cancer por 4 vezes, ou seja, existe uma possibilidade real de Sarah virar a chefe da Casa Branca. E como credencial para tal, a mesma já foi jornalista de esportes do Alaska (sensacional !), prefeita de uma cidade de 20 mil habitantes (que certamente tem mais "renas" do que gente) e está há apenas dois anos no governo de um estado cujo orçamento anual é menor do que o de Campinas. Para completar se classifica como "hockey mom" e disse em discurso transmitido em rede nacional que a diferença entre uma "hockey mom" e um pitbull é apenas o batom. Resumindo, passa longe de ser uma figura concretamente preparada para assumir o salão oval. O que significa que no próximo governo americano, o novo será literalmente testado, seja com Obama, seja com Sarah Palin.

Diante disso, escutei aqui em Washington, de um americano "especializado em política brasileira", a seguinte afirmação depois do mesmo ter me ouvido falar da falta de experiencia do candidato democrata e da vice republicana: "Como brasileiro, não deveria estar preocupado com isso. Afinal o Brasil é o país aonde o presidente Lula, antes da eleição de 2002, não tinha praticamente nenhuma experiencia anterior e o Dunga, técnico da seleção (que alguns dizem ser o segundo cargo mais importante da nação), nunca havia sido técnico antes.Sendo assim, por que Obama não pode ser presidente e Sarah Palin não pode ser vice ?".
Se essa comparação tiver um pingo de verdade, sou obrigado a pensar: "God Bless America" ou Deus abençoe os Estados Unidos porque vão precisar e muito. Todavia, imaginem,com Dunga na Casa Branca, os Estados Unidos nao atacariam ninguem.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Convenção Democrata: Um Biquini de Mulher

O famoso brasileiro Roberto Campos disse, certa vez, que "estatística parece biquini de mulher, mostra muita coisa mas esconde o principal". Foi exatamente esse meu sentimento em relação ao show pirotécnico que foi a Convenção do Partido Democrata realizada em Denver, Colorado.

Durante quatro dias seguidos, os Estados Unidos viram desfilar nos palanques do Colorado, estrelas democratas como Ted Kennedy, Michelle Obama (mulher do candidato), Al Gore (candidato derrotado no roubo da contagem de votos da Flórida em 2000), John Kerry (superado por George W.Bush em 2004), Bill Clinton (dispensa apresentação) e até mesmo a principal rival de Obama, a Senadora Hillary Clinton. Todos exaltaram a necessidade de colocar fim aos "anos de sombra" da Era Bush, declararam apoio e pediram voto para o candidato democrata, pregaram união do partido e ainda atacaram diretamente o Republicano John McCain. Para encerrar, Barack Obama discursou para mais de 70.000 pessoas no Estádio do Denver Broncos (time local de futebol americano) evocando a memória de ícones americanos como Franklin Roosevelt, John Kennedy e Martin Luther King Jr. (que há exatos 45 anos atrás fazia o famoso discurso do "I have a dream" – "eu tenho um sonho"). Tudo lindo e maravilhoso para Obama ? Não necessariamente.

O primeiro ponto de atenção é se realmente o partido democrata estará unido para vencer os Republicanos depois de um "sangrento" período de embates entre Barack Obama e Hillary Clinton. E mais, se ex-primeira dama vai conseguir convencer seus eleitores a votarem em Barack Obama. Em Estados decisivos para o sucesso democrata como Pennsilvania, Ohio, Michigan e Flórida, pesquisas mostram que quase 70% dos seguidores de Hillary tendem a votar em John McCain. Também fica a pergunta qual será realmente o comprometimento do grupo dos Clinton nesse processo ? Lembram do caso de José Serra e Geraldo Alckmin, do PSDB, na eleição presidencial de 2006. Ao final do primeiro turno, Serra declarou apoio incondicional a Alckmin mas nada fez para a sua vitória levando o ex-governador ao vexame eleitoral de ter menos votos no segundo turno do que no primeiro. Agora, quem é o maior nome tucano para substituir Lula ? O governador Serra. Voltando aos Estados Unidos, se Obama perder, Hillary se coloca como principal candidata para a Casa Branca.



O segundo é fato de Barack Obama ainda não conseguir traduzir completamente o entusiasmo de seus discursos em propostas realmente concretas para a população americana. Ele fala em "change" (mudança) na saúde mas pouco explica como, "change" na economia mas prega mais protecionismo, "change" na Guerra do Iraque para prender Bin Laden, mas não apresenta uma solução real para o Iraque, "change" na imigração, mas sendo ainda mais duro que os republicanos com os ilegais. Enfim, os detalhamentos básicos dessas propostas passaram longe de Denver.

Nesse sentido, talvez a Convenção Democrata tenha cumprido seu papel: de mostrar muita coisa mas esconder o principal. Só fica a pergunta se "essa muita coisa" será suficiente para levá-los de volta a Washington.Ou se ao longo do restante da campanha, vão precisar "change" um pouco e partirem para o principal: união do partido e propostas concretas.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Quando o mundo descobriu o Brasil

Por Carlos Moura


Tomo a liberdade de adaptar para esta minha crônica o título de um filme, muito bom, sobre a campanha do Brasil na Copa do Mundo de 1958.

Isso aconteceu faz 50 anos e, durante esse tempo, nosso país mudou muito. Saímos do campo para inchar as cidades.

Nossa capital de então – Rio de Janeiro – foi ocupada por um "novo Estado": o crime organizado.

Naquela época, havia esperança e sonhos. Passamos a acreditar em nós.

Em tudo aconteciam novidades. Na boa e velha política, as coisas mudavam para tudo continuar igual.

O PSD (partido do presidente JK) controlava os rincões da pátria, enquanto a UDN (oposição) planejava, nos salões elegantes das capitais, o golpe para tomar o poder.

Em 1964, a UDN conseguiu o golpe, mas pouco tempo depois foi posta de lado pelos militares.

Em São Paulo, a festa pelo campeonato do mundo na Suécia não ocupou a avenida Paulista, onde os bondes ainda circulavam e as pessoas podiam caminhar tranqüilamente. Não havia trombadinhas, etc.

Isso tudo me vem à mente com o fim das Olimpíadas de Pequim.

Infelizmente, ficou provado mais uma vez que as coisas mudam para tudo continuar igual.

Nosso desempenho foi inferior ao esperado ou sonhado, deixando claro que nossos projetos nacionais são sempre voltados para a pirotecnia, e não para resultados efetivos e constantes.

E, como dizem os maldosos, para ganhar "bronze", basta ir às praias do Nordeste em qualquer época do ano.

É verdade que entre os sul-americanos fomos os mais bem colocados, inclusive mais do que Cuba.

Precisamos melhorar nossas participações nas Olimpíadas, ganhando mais medalhas de ouro, mas sem trocar nossa democracia por uma ditadura igual à do país que mais medalhas de ouro ganhou.

Para isso, cuidado nas eleições de outubro é um passo importante.

O Brasil é um pais emocional ou irracional

Por Maurício Moura

"A equipe brasileira liderada por Marta e Cristiane é melhor mas acho que temos chances de ganhar o ouro porque Brasil é um pais emocional" disparou a comentarista americana de futebol feminino da Rede de TV NBC dos Estados Unidos. Realmente ela estava certa, a seleção feminina brasileira jogou melhor mas quem levou a medalha de ouro foram as americanas. Todavia, ficou a pergunta na minha cabeça: o que significa ser um "pais emocional" ?

Se a ilustre comentarista se refere a perder disputas esportivas de alto nível, como o caso das Olimpíadas, mesmo carregando amplo favoritismo como foi o caso de Diego Hypólito na Ginástica, do futebol masculino, do Jadel Gregorio, do volei de praia e da própria equipe de futebol feminino, me permito discordar. Quem acompanhou os Jogos de Pequim pela TV americana percebeu que os Estados Unidos, além de tomar um baile da China no quadro geral de medalhas, ainda amargou uma série de decepções: o atletismo que comeu poeira dos velocistas da Jamaica, sendo inclusive eliminado nas provas de revezamento por deixarem "cair o bastão" tanto no masculino como feminino (esse é um erro bem maior do que o cometido pelo ginasta brasileiro), o softbol que perdeu a final para o Japão que nunca tinha ganho medalha ou mesmo a ginástica feminina que ficou atràs da China e até agora não para de reclamar da idade das chinesas. Essas derrotas significam que os americanos são "emocionais" ?

Agora, se a americana da NBC se refere ao fato da maioria dos brasileiros só lembrar de esportes como o atletismo, judo, ginástica, tawekondo, natação, futebol feminino, boxe e outros de quatro em quatro anos e ainda exigerem medalhas, devo concordar plenamente. O esporte brasileiro ainda carece de investimentos públicos e privados para que possa disputar medalhas com maiores chances em diversas modalidades. Não custa lembrar que o medalhista de ouro, César Cielo, treina nos Estados Unidos desde 2004 e 90% dos atletas de volei de quadra (tanto feminino quanto masculino) jogam na Europa. A vela e hipismo, aonde o Brasil ganha medalhas regularmente, passam longe de serem esportes acessíveis para a população.

Por outro lado, o investimento feito pelos Estados Unidos em esportes olimpicos chega a quase 5% do PIB americano. A China atingiu a marca de quase 10% do PIB em investimentos no esporte, nos últimos 15 anos, incluindo treinamento de atletas, formação de treinadores e construção de infra-estrutura esportiva. Enquanto isso no Brasil não temos nem estatística sobre esse tema.

Nesse sentido, o fim dos Jogos Olímpicos de Pequim nos deixa a certeza que temos de ser realmente muito "emocionais" para esperar que nossos atletas possam disputar medalhas, em igualdade, com forças esportivas como EUA, China, Austrália, Inglaterra e Rússia. Se a turma da NBC realmente conhecesse a realidade do esporte tupiniquim e o grau de expectativa criado em cima dos atletas brasileiros, certamente diria que o Brasil além de "emocional",pode tranquilamente receber o adjetivo de "irracional".


quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A falta que nos faz Dorival Caymmi

Por Carlos Moura

No sábado – 17 de agosto – perdemos Dorival Caymmi. Sem ser repetitivo, é preciso deixar bem claro que ficamos mais pobres e não há política pública que repare essa perda.

Caymmi foi um excelente exemplo de qualidade e eficácia profissionais. Suas composições são extremamente complexas na simplicidade. Econômicas na quantidade de palavras, mas repletas de lirismo e profundidade. Por isso, sempre foram direto ao ponto, sem desperdícios, tornando-se para sempre um modelo a ser seguido por todos nós, brasileiros. Não vejo no horizonte ninguém no Brasil que possa ocupar seu lugar e quem pôde desfrutar de seu trabalho deve se considerar um premiado por Deus. Felizmente, seus filhos querem levar adiante a sua bandeira.

É lamentável para nosso país que Caymmi não seja imitado pela nossa administração pública, que cada vez mais se torna confusa com baixíssima qualidade, eficiência e eficácia. Continuamos a viver o processo de reinvenção da roda. Toda vez que surge algo novo, a primeira atitude é criar uma nova estrutura no serviço público, mais um galho para acomodar correligionários, pouco importam os novos custos diretos e indiretos. As superposições dessas estruturas criam o caos administrativo, e o cidadão fica perdido. Insisto, tente você ler uma lei para saber o que pode ou não fazer. Ao terminar a leitura, terá, certamente, mais dúvidas.

Como estamos em tempos de campanha eleitoral, tomo a liberdade de sugerir aos chefes dos poderes legislativos (federal, estaduais e municipais) que promovam nas casas do povo que comandam encontros para comparar os textos das leis que aprovam com as letras das canções de Caymmi. Feito isso, estabeleçam metas claras (prazos e responsabilidades) para que as toneladas de leis e normas que caem diariamente sobre nossas cabeças, tenham a clareza, a eficiência e a eficácia de Caymmi.

Quem fizer isso primeiro será consagrado e terá seu nome gravado no panteão dos heróis da Pátria.

Se tudo continuar como está, só nos restará ir para Maracangalha, convidando nossos ilustres representantes. E se eles não quiserem ir, nós vamos sós.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Quem tem a razão, pergunta o povo

Por Carlos Moura

Diz o ditado popular: "casa que falta pão, tudo mundo fala e ninguém tem razão". Lembrei-me disso ao ler as notícias sobre as disputas entre o inspetor Geral T. Soninlaw (aquele que mandou rapidinho de volta para Cuba os atletas cubanos que fugiram da delegação no Pan-Americano do Rio) e os militares sobre a Lei da Anistia. É óbvio que é um tema muito delicado e cheio de cargas emocionais. Não tenho respostas definitivas, mas sinto que a Anistia permitiu uma transição tranqüila para a democracia.

O fundamental agora e sempre é lutar não só pela preservação como para a plena consolidação da democracia em nosso país, porque vemos todos os dias sérias ameaças a ela. Basta ler os jornais para entender minha preocupação.

Para quem viveu os anos da ditadura militar, o vital é ter aprendido as lições sobre os extremismos de ambos os lados e fazer de tudo para não repetirmos os erros. Isso inclui tornar pública a real situação dos muitos desaparecidos, para que suas famílias possam seguir suas vidas sem esse drama.

Outro tema, este agradável, é a candidatura do Rio de Janeiro para sede das Olimpíadas de 2016, que serviu de pretexto para mais uma viagem ao exterior de nosso presidente da República, que foi à China para ver como se faz uma Olimpíada. Por enquanto, só temos visto discursos repletos de furor patriótico, como, aliás, é a regra geral para qualquer questão que exija ações dos governos no Brasil. Será que bastará criar a "bolsa olimpíada" e tudo se resolverá? Ou teremos o PAO – Plano de Aceleração das Olimpíadas, com muitos discursos e promessas de investimentos? Enquanto isso, o Rio de Janeiro – candidato a sede dos jogos – já foi tomado por um "governo estrangeiro", que dita todas as regras para funcionamento de grande parte da cidade.

Será que por isso tudo, logo teremos mais um ministério? Afinal, 2010 está chegando e o dízimo dos companheiros é vital, principalmente se as eleições resultarem em alternância no poder.

Mas assim é a democracia e não é simples saber quem tem razão.


quarta-feira, 6 de agosto de 2008

E as vacas gordas, quando chegam?

Por Carlos Moura

Ao longo dos últimos dias fomos exaustivamente informados sobre o fracasso da Rodada DOHA da OMC, que para o Brasil, por haver concentrado suas ações diplomáticas nessas negociações, tem impactos importantes. Saímos desse processo sem acordo multilateral para o comércio e não temos nenhum acordo bilateral substancial. Especialistas afirmam que nossa estratégia comercial fracassou com DOHA. Ao buscar entender o que ocorreu, encontrei a explicação numa declaração do ministro do Exterior: "O Brasil passará a focar resultados". Brilhante! Como brasileiro fico curioso por saber qual o foco da nossa política externa desde janeiro de 2003? Quanto nos custou essa política? Quanto deixamos de ganhar com os tempos de vacas gordas da economia mundial?

Minha esperança repousa no dinamismo do setor privado brasileiro, que deve exigir uma participação efetiva na definição de nossa estratégia comercial e não aceitar ser deixado de lado pela nossa diplomacia e pelos demais órgãos da administração federal, envolvidos com o comércio exterior. Precisamos de regras claras e estruturas ágeis.

Ainda nas vacas gordas, tivemos recentemente mudança no comando da Receita Federal, que vem faz anos batendo recordes de arrecadação. A nova chefe da SRF, em recentes entrevistas, falou em aumentar o número de alíquotas do IR das pessoas físicas, alegando que há clamor da sociedade para isso.

Concordo com a secretária da Receita Federal é preciso mexer no IR das pessoas físicas. Poderia começar por definir melhor o que é renda tributável, principalmente num país que quase nada dá de retorno em educação, saúde e segurança pública. Se a secretária fizer uma análise rápida da qualidade e da quantidade das despesas dedutíveis, poderá perceber que há uma diferença muito pequena entre renda bruta e renda tributável, o que coloca nossas atuais alíquotas efetivas entre as mais altas do mundo. Penso que uma pesquisa com as famílias que têm filhos em idade escolar seria muito útil.

Por isso, continuamos sem aproveitar os tempos de vacas gordas e engordando a distância que nos separa do verdadeiro desenvolvimento.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Selic: tão bem-vinda e tão inoportuna

Por Carlos Moura

Na semana passada o Copom, numa decisão agressiva, aumentou a taxa de juros de 12,25% para 13% para combater a inflação que, por uma série de razões, volta a ameaçar nosso Brasil. Felizmente, por enquanto essa ameaça ou neo-realidade não merece ser chamada de como nunca antes na História do Brasil.

Como essa nova taxa é um fato, não temos muito o que fazer, mas estou procurando entender. Da leitura atenta dos jornais, mesmo os especializados, é quase impossível tirar uma média entre os pró e os contra.

O fascinante é que cada vez fica mais claro que (1) o Brasil só tem a política monetária para combater a inflação; (2) os gastos públicos crescem assustadoramente; (3) os custos de produção de bens e serviços são elevados (burocracia estatal, falta de infra-estrutura, carga tributária e corrupção) e (4) baixa qualidade da gestão pública, demonstrada de forma singela pelo temor dos quadros do Ministério da Fazenda que a dosagem dos aumentos da taxa de juros seja mantida nas próximas reuniões do Copom, reduzindo as taxas de crescimento da Economia em 2009. Tudo indica que a meta é ter a inflação sob controle, para que em 2010 o crescimento econômico retorne, gerando polpudos dividendos eleitorais.

Outro aspecto que me fascina nesse processo – taxas de juros – é a suposta pele grossa do Banco Central – nosso querido guardião da moeda, porque todas as pancadas são contra a instituição e seu presidente. Do outro lado, está o chefe do Poder Executivo que, embevecido pelo sucesso, rema em sentido contrário, pondo mais lenha na fogueira da inflação. Esse processo fica claro para aqueles que conseguem separar o discurso das ações. Tudo indica que, também, no controle da inflação temos o efeito "teflon", ou seja, nada gruda no chefe do Executivo. Se isso é verdade ou não, só o futuro dirá.

O mundo não está mais tão favorável para nós e isso pode criar situações que o blá-blá-blá populista não será mais possível sem graves conseqüências, como por exemplo, dizer para os apóstolos da inflação tirarem o cavalo da chuva, porque faz tempo que não chove.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Obama na Europa e o muro nos EUA

Por Maurício Moura, da Redação

Parei em frente a uma banca de revista e apenas observei um movimento diferente. Absolutamente todos os jornais estampavam o sucesso de Barack Obama em Berlim, diante de mais de 200 mil pessoas.

Diante das manchetes, alguns paravam e diziam: "nossa, olha o Obama na capital da Europa!", (geografia nunca foi o forte dos americanos), outros arregalavam os olhos desacreditados pelo fato de ver um americano levantando simpatia dos "estranhos" europeus.

Afinal, para a maioria americana local, europeu é um povo abstrato, complexo, enquanto "nós da América" somos "objetivos, concretos e simples". Num texto famoso, um dos assessores de Bush afirmou: "Os Estados Unidos são de Marte, enquanto a Europa é de Venus", quando da recusa da Alemanha e outros europeus em apoiar a Guerra do Iraque.

Barack Obama, como de costume, entusiasmou com seu discurso em Berlim. Falou que os muros da humanidade devem cair. Os muros entre judeus e palestinos, entre Ocidente e Oriente e entre os europeus e americanos. Justamente no parque onde o Muro de Berlim passava e dividia a "capital da Europa" entre o mundo comunista e capitalista.

Todavia, Obama esqueceu de mencionar um determinado muro (e que pode ser decisivo para a vitória eleitoral em novembro): o muro da fronteira entre Estados Unidos e México, que Obama, quando senador por Illinois, votou a favor da construção. E pior, as propostas do candidato democrata para a questão da imigração em quase nada se diferenciam das de John McCain e do modelo atual de Bush.

A população latina que representa quase 15% do eleitorado americano tem na imigração um dos principais temas, e Obama, além dos entusiasmados discursos, tem muito pouco a oferecer de diferente. Não custa lembrar que Hillary Clinton teve ampla vantagem nas primárias entre os eleitores latinos.

Ficou a impressão para a comunidade latina nos Estados Unidos que os muros devem cair apenas do outro lado do Atlântico, onde Venus predomina. Porém, em Marte, se depender da Lua do candidato democrata, os americanos poderão até passar a ter um discurso mais abstrato (como o de Berlim), mas sem deixar de lado as políticas bem concretas em relação a muros e imigração.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

No futebol, tudo pode acontecer

Por Carlos Moura

O Estado deve garantir aos cidadãos o direito de escolher

Gosto de futebol, mas não sou fanático e uma das boas coisas do futebol são os debates nas rádios e televisões. São discussões infindáveis, cheias de pérolas como “no futebol tudo pode acontecer... nem sempre dá a lógica”.
Isso tudo – nem sempre dá a lógica – me veio à mente quando li as notícias sobre a saída da profa. Elizabeth Farina da presidência do Cade, órgão responsável pela defesa da liberdade de concorrência na economia. A profa. Elizabeth declarou com toda a clareza: “Faltou empenho do governo para reformar a defesa da concorrência.” Nesse caso deu a lógica. A liberdade de concorrência não é um jogo de futebol, mas para nós, cidadãos, é tão importante quanto. Sem liberdade de escolha, perdemos grande parte da nossa cidadania.
Por que deu a lógica? Os pensadores do partido no poder são contra a livre concorrência, querem o controle do Estado sobre a produção, mesmo sendo conhecidos como administradores ineficientes e misturadores dos bens públicos com personagens do setor privado. São também adeptos do partido único, que leva à extinção da escolha política.
Focando na defesa da liberdade de concorrência, esse foi o caminho escolhido pelos países que hoje combinam desenvolvimento e estabilidade política, porque o Estado assume seu verdadeiro papel na economia: garantir aos cidadãos o direito de escolher os bens e serviços que melhor atendem às suas necessidades e seus desejos.
Essa liberdade de escolha é perigosa para quem prega “mantemos nossos compromissos históricos, nossa moral socialista e nossa missão no combate do povo brasileiro por sua libertação”, como fez importante quadro do partido no poder – hoje fora do governo – em seu blog. Ora, se os cidadãos têm liberdade de escolha, podem contestar as ações do partido, podem perceber que há vida além das “bolsas doadas pelos governos” e querer votar em outros partidos. Não podemos ser inocentes: todos os partidos existem para chegar e ficar no poder, mas isso tem de acontecer dentro de regras democráticas, que garantam sempre a liberdade de escolha dos cidadãos.
É liberdade que queremos.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O dia que conversei com Cacciola

Por Maurício Moura

Em 2003, ainda era aluno de mestrado em Chicago, e tive, juntamente com outros colegas de Finanças da Universidade, a oportunidade de escutar por quase 2 horas, o ex-banqueiro Salvatore Cacciola ao telefone direto de Roma. Antes de mais nada, uma aula de mercado financeiro e de Brasil também para o bem e para o mal.

A pergunta de inumeros estudiosos do mercado financeiro naquela dia (a maioria deles não brasileiros) era simples: como o sistema financeiro brasileiro havia atravessado uma mega desvalorização em 1999 e ainda sim saira fortalecido e com os bancos tendo batido recorde de lucros, principalmente nas operações de tesouraria (aquele tipo de ganho não oriundo de serviços prestados aos clientes) ?

Teria sido pela ação ilegal do Banco Central ao vender dólar mais barato para o Banco Marka e o BancoFonteCidam e assim ter salvo o mercado ao evitar a quebra de dois bancos pequenos ? Para ser uma idéia, nunca na história da economia mundial (ou "nunca antes na história desse planeta"), um país tinha atravessado tão bem tamanha crise.

Cacciola tem uma resposta muito simples para essa pergunta. Admite ter realizado operação em foro privilegiado com o Banco Central mas alega te-lo feito na busca de salvaguardar o interesse de seus clientes. Acusa diretamente o governo Fernando Henrique de ter "antecipado" a informação para os principais bancos brasileiros e estrangeiros que operavam no Brasil. Dessa maneira, as tesourarias tiveram tempo suficiente para mudar de posição e apostar a favor do dólar e contra o Real. Com isso, recorde de lucros foram despejados nos resultado dos Bancos.

O ex-banqueiro ainda completa: "todo o mercado ganhou bilhões com a desvalorização e eu que quebrei fico como o ladrão dessa história". E quem pagou essa conta ? Todos os brasileiros, que tiveram de conviver com uma taxa de juros de 45% ao ano, lançada em fevereiro de 1999, para evitar uma fuga maior de capitais.

Muito provavelmente a leitura de Cacciola sobre o episódio esteja correta. O que não esconde o fato do mesmo ter participado de uma operação ilegal juntamente com a Diretoria do Banco Central e que gerou um custo estimado de 1,5 bilhão de reais aos cofres públicos.

Todavia, Cacciola mostrou profundo desconhecimento de Brasil ao fugir para a Itália. Abandonou o paraíso dos contraventores, a terra das garantias dentro da Lei, dos Habeas-Corpus preventivos, das diversas instancias da Justiça e dos super-poderosos advogados de defesa. Os "companheiros" dessa ação ilegal ficaram e continuam a ganhar dinheiro no mercado financeiro. Agora , se Cacciola tiver o que não teve no passado, paciencia, logo estará solto.