quarta-feira, 29 de outubro de 2008

E agora? Para onde vamos

Por Carlos Moura

Acabaram as eleições. Os resultados já foram proclamados. Os prefeitos eleitos têm que formar suas equipes e começar a trabalhar, os vereadores planejar seus projetos para a nova legislatura. Tudo indica que mesmo com o programa "Luz para todos", poucos postes foram eleitos, ou quem sabe, nenhum.

Nossos tempos de cigarra podem estar chegando ao fim e, como muitos comentaristas políticos têm afirmado, no dia 27 passado começou o fim do governo do atual Presidente da República.

Até agora o que temos assistido é um embate entre o canto da cigarra e a realidade. Parece que o mundo real resiste fortemente à vontade política, que em qualquer lugar do mundo, para se tornar fatos concretos, exige muita negociação. Exige que se faça sempre com muito cuidado a lição de casa. Não bastam discursos cheios de frases de efeito e comparações simplórias.

É curioso notar que a ganância e a crença nos bons ventos que sopraram no Brasil nos últimos 6 anos, levaram muitas pessoas a acreditar em promessas de governantes, assumindo riscos excessivos.

Nesses tempos, lembro uma advertência antiga de um conhecido que sempre recomenda: "Não acredite. Só tem malandro".

Precisamos saber logo como o nosso amado Brasil vai conseguir gerir gastos públicos crescentes, falta de investimentos na infra-estrutura e o descolamento do discurso esfuziante com a realidade.

A política do morde e assopra, das declarações desencontradas e do sonho estatizante poderá ter sérias conseqüências para todos. Como limpar o serviço público das nomeações meramente políticas e de acomodação de quadros partidários São dezenas de milhares de pessoas que entraram no trem sem bilhete e que terão de sair. Quem vai tomar e implementar tal decisão? Sabemos que tomar decisão não faz parte do cardápio. O caminho normal é empurrar com a barriga.

É humano sonhar com uma sinecura. O complexo é administrar os sonhadores, controlando suas ações no mundo real. Tudo indica que no horizonte, salvo raras exceções, não se vê lideres para esse processo no Brasil e quiçá no mundo.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Até quando? Exigimos respeito

Enquanto a crise gerada e parida pelo sistema financeiro mundial corre solta, assistimos no Brasil a uma greve dos bancários. Não tenho a menor intenção de discutir a validade ou não da greve e, muito menos, o direito dos bancários de lutar por seus interesses. O que me irrita é o desamparo de nós cidadãos comuns. Isso porque, os bancos no Brasil têm uma função incomum, qual seja, são as coletorias ou cobradores de quase tudo. Se queremos pagar nossa conta de luz, temos que pagar nos bancos, o mesmo é válido para tributos. Enfim, temos que pagar quase tudo nos bancos.

Se as agências fecham ou funcionam parcialmente, as pessoas comuns têm problemas, porque se não conseguem pagar no dia do vencimento, serão cobradas com juros e multas. Alguns podem dizer que se pode pagar pela Internet, nos caixas automáticos e nas casas lotéricas. Mas no final, quem arrecada são os bancos, que são remunerados por esse serviço. Nós todos, velada ou abertamente, pagamos um pouco mais caro por isso.

Esse privilégio dos bancos, que pode ser muito confortável para os cidadãos, precisa ter uma contra-partida garantida e controlada por lei, ou seja, todos os serviços de cobrança têm que estar sempre disponíveis nos horários comerciais. Caso contrário, o cidadão fica desprotegido e prejudicado. Afinal, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco.

Outro privilégio dos bancos no Brasil é a concessão de empréstimos. Somente eles podem emprestar dinheiro ao público. Por que isso? Suponha que tenhamos um capital e decidamos montar um negócio para emprestar dinheiro. Registre-se que iríamos emprestar o nosso dinheiro, não faríamos nenhuma captação de recursos do público. Não podemos. Qual o benefício para o público desse privilégio? Para mim, não vejo nenhum. Admito que não sei se haveria muitos investidores para essa atividade, mas entendo que ela deva estar disponível.

Que tal aproveitarmos este momento de revisão do papel do mercado financeiro e colocar esses privilégios em discussão pública? Com a palavra as chamadas autoridades competentes e nossos representantes no Congresso Nacional.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Coordenação ou Correlação ? As duas crises de Bush

O grande filme da chegada do Outono nos Estados Unidos tem tudo para ser "W" , dirigido pelo famoso Oliver Stone ( Diretor dos controversos Platoon, Nascido em 4 de Julho e JFK). O filme conta a vida do Presidente George W. Bush, e tem particular foco sobre os bastidores da Casa Branca em meio ao 11 de Setembro e Guerra do Iraque. Certamente daqui 100 anos, historiadores vão contar que o Governo Bush passou por dois momentos delicados: o 11 de setembro em 2001 e a crise do mercado financeiro em 2008.



A primeira reação do presidente americano foi no melhor estilo "anos de chumbo" da Ditadura Brasileira, com a sensacional abordagem patriota "Brasil - ame-o ou deixei-o". No mesmo estilo, Bush promoveu o ataque ao Iraque sem negociar ou escutar nenhuma liderança mundial.Os Estados Unidos, naquela oportunidade, adotoram o discurso "ou estamos juntos ou estamos em lados opostos". Não houve nenhuma coordenação. O resultado foi a desastrada invasão cujos resultados negativos para a humanidade se estendem até hoje.



Na crise financeira mundial, a atitude foi diferente. O governo yankee se reuniu e ouviu Chefes de Estados e Ministros de Finanças de diversas partes do planeta. Na real, não somente ouviu mas também copiou a solução do velho mundo. A compra de participação nos bancos foi incialmente uma idéia do Primeiro Ministro da Inglaterra, Gordon Brown. E o que pareceu para muitos um projeto de coordenação global contra crise foi, na verdade, uma edição macro de uma anedota da "sabedoria popular" que diz "quem não cola não sai da escola". Houve o que os economistas chamam de "correlação" que significa, na prática, ver o que os outros estão fazendo e fazer igual.



Menos mal considerando as atitudes e o estilo de governo da "Era Bush". Não custa lembrar que a proposta inicial do Secretário do Tesouro, Henry Paulson, era ter "um cheque branco" de US$ 700 bi para comprar ativos podres do sistema financeiro – o mesmo que dizer "manda o dinheiro que vou gastar como achar melhor – ou estamos do mesmo lado ou o mundo vai quebrar". E o mesmo (Secretário Paulson) foi absolutamente inconsistente em todos os seus discursos sobre a crise financeira – começou dizendo ser contra comprar ação de banco e acabou afirmando que tal era a alternativa mais racional.



Solução ideal essa de comprar participação nos bancos ? Talvez não, porque não se sabe o que é pior para o contribuinte, ter o governo como sócio de banco ou administrando banco. Todavia, o importante é que o resultado final desse caminho adotado pelos governos europeus e americano certamente será melhor do que qualquer atitude "isolada" ou "heróica" da Casa Branca como ocorreu na Guerra do Iraque.



No filme, Oliver Stone mostra que George W. Bush se enganou em quase todas as suas análises sobre política externa e economia. Garantiu para o mundo que havia armas químicas em Bagdá, afirmou em Maio de 2003 que no Iraque os Estados Unidos tinham a "Missão Cumprida", previu a prisão de Osama Bin Laden antes do final do seu mandato e por fim ainda afirmou que a crise do sub-prime era um fato isolado e não iria atingir a economia real. Essa semana, em outro discurso em rede nacional , Mr. Bush previu que "os efeitos da crise serão longos e duros". Confesso que considerando o histórico de acertos do mesmo, essa afirmação serviu até como luz no fim do tunel.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Nossos momentos inesquecíveis

Por Carlos Moura

A cena do nosso capitão Bellini levantando a taça da Copa do Mundo de 1958 é certamente um momento inesquecível para todos nós, brasileiros.

Nos dias atuais, tivemos dois outros momentos que poderão ser inesquecíveis no futuro. Um é a alegria do Nosso Guia ao receber o prêmio Dom Quixote por seu inestimável trabalho para a difusão da língua espanhola. Nas cenas mostradas pela televisão, pudemos sentir que ele se segurou para não repetir o gesto de Bellini e levantar o troféu para o alto. Foi muito emocionante e calou fundo em nossos corações. Alguns companheiros estão tristes porque até agora o Nosso Guia não recebeu nenhum troféu por tudo que ele tem feito pelo Português, principalmente nos seus discursos de improviso.

O outro momento foi a alegria do ministro da Fazenda, quando George W Bush sentou-se a seu lado na reunião do G 20, em Washington. Para um militante clássico como ele, foi uma consagração, afinal foi demonstração pública dos nossos méritos. Pena que Bush esteja no fim do mandato e com a menor popularidade da história dos EUA.

Isso tudo é muito positivo e vai ajudar o Brasil a superar os problemas gerados pela crise global. É fácil de entender, porque ao longo dos últimos seis anos, quando a economia mundial cresceu fortemente, aproveitamos a boa maré e fizemos todas as reformas de que precisávamos. Hoje temos infra-estrutura de transportes no estado da arte; temos um sistema tributário voltado para incentivar os investimentos e promover o desenvolvimento; temos um sistema previdenciário caminhando a passos largos para o equilíbrio e garantindo o futuro tranqüilo de seus beneficiários atuais e futuros. E não podemos esquecer da saúde pública e da segurança em geral, que garante a paz para os cidadãos e para novos empreendimentos empresariais. Temos ainda as punições severas a todos os servidores públicos e empresários que se envolveram com corrupção.

É triste que nem todos acreditem nessas verdades, querendo ações concretas, mas a vida é assim mesmo. Sempre há os ingratos. Para eles, as batatas, mesmo não sendo vencedores.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

1988 A Constituição inacabada...

Por Carlos Moura

Sem dúvida viver no Brasil não é nada monótono, pois nossas constituições são publicações periódicas.

Estamos comemorando os 20 anos da Constituição de 1988, a chamada “cidadã”. Para mim, um simples brasileiro de 58 anos, é motivo de festa, afinal essa é a 3ª constituição de minha vida, que sinceramente espero supere a marca da 2ª (1967-1988). Meu pai, que nasceu 25 anos antes de mim, foi mais feliz, viveu sob seis constituições e viu um recorde: uma constituição que durou 3 anos (1934-1937). Sem dúvida viver no Brasil não é nada monótono, pois nossas constituições são publicações periódicas.

Há muitas controvérsias sobre a qualidade da “cidadã”. Nos últimos dias fomos brindados com inúmeros artigos sobre o tema. Eu acho um monstrengo.

E até agora tenho dúvidas sobre suas vantagens. Destaco 2 pontos importantes que geram tais dúvidas. O primeiro é sobre a nossa representatividade nos parlamentos. São pouquíssimos os cidadãos que sabem como funciona e como se calcula o quociente eleitoral, que define quem é eleito ou não, independentemente dos votos recebidos. Outro é permitir que os governos financiem as entidades sindicais, porque tais recursos públicos garantem controle do Estado nos sindicatos, impedindo a livre representação.

Além disso, vemos quase todos os dias ações contra normas, alegando inconstitucionalidade. Se há tantas dúvidas, deve haver enorme falta de clareza no texto constitucional, que somada à incompetência de nossos legisladores, leva-nos a viver sob fortes emoções.

Mas graças ao bom Deus, temos um chefe do Executivo atento a tudo e que nos ensina: “defendo as reformas política e tributária (não falou da previdência), mas digo que não são urgentes e que o país é perfeitamente governável com a Carta atual”. Pronto, está quase tudo resolvido. Só faltou explicar qual seu entendimento sobre governar. Parece que significa não descer do caminhão de som e fazer discursos.

Nem tudo está perdido, temos a reforma ortográfica, garantindo a todos que falam Português a felicidade de poderem se comunicar livremente e para nós brasileiros, resta torcer para que a “cidadã” proteja o nosso doce de coco da reforma ortográfica.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

“Sorria, você está sendo gravado”


Por Carlos Moura

Em novembro de 1955 o Marechal Lott liderou movimento para garantir a posse de JK, eleito presidente em outubro daquele ano. O lema de Lott foi "garantir o retorno ao estado constitucional vigente". É certo que os perdedores de 1955, conseguiram acabar com o estado constitucional vigente em 1964.

Infelizmente não temos mais tipos como Lott e, para nossa tristeza e atraso, temos tipos como o Insp. Geral T. Soninlaw, que como foi bem definido pela revista VEJA "é daqueles homens públicos que adoram a imprensa – desde que ela lhe seja servil e bajuladora" O pior é que Soninlaw não está só no projeto de amordaçar a imprensa, tem aval do Planalto e, certamente, apoio intelectual da área de comunicação social do Executivo.

Soninlaw comanda a tentativa de aprovar no Congresso um projeto de lei que, usando a justificativa de combater as escutas clandestinas, quer punir com até 4 anos de prisão quem, desafiando o grupo atualmente no poder, cometa o desrespeito de divulgar o conteúdo de grampos, isto é, os jornalistas. Mas, não são todos alvos do Tribunal de Exceção de Soninlaw, somente aqueles não alinhados ou subsidiados. Esses, quando pegos com a mão na botija, são logos perdoados, porque são vítimas ou aloprados. Afinal, eles tem muitos anos de dedicação à causa de construir um Brasil melhor. Não aquele Brasil que, como muito bem definiu o jornalista J. R. Guzzo, "será um país bem mais arrumado quando tomar a decisão de concentrar-se na multiplicação de chances para quem está pior e deixar em paz quem está melhor".

Enquanto isso, na semana passada em Nova Iorque, nosso chefe do Executivo atacou o liberalismo e o ET George W. Bush e, do alto do seu permanente caminhão de som, falou para seus companheiros que o mercado financeiro "precisa ter ética". Infelizmente, o Jefferson local não tem mais condições de dar o mesmo conselho que o nosso Jefferson, em 2005 no auge dos tempos do "mensalão", deu para um alto prócer do partido do governo e atual blogueiro.

Por isso, sorria sempre e aperte os cintos, porque o caminhão segue sem piloto.